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Às vezes me pergunto qual será o nome dos meus filhos.

Foto do escritor: Corpo TerreiroCorpo Terreiro

Às vezes me pergunto qual será o nome dos meus filhos, desses que a gente gostaria que fossem únicos e nos lembrassem todos os dias de onde tiramos doçura, forças e alegrias para guerrear, desses que me levam pro samba, pra linha de frente, que me fazem voltar para casa, olhar com ternura, fabular futuros e namorar nos bares.


As vezes me pergunto qual será o nome dos meu filhos, assim no plural como quem quer ter a casa ampla e preparar banquetes nas refeições, às vezes me pergunto qual será o nome dos meus filhos, desses nomes que farão me lembrar dos dias e das noites que passei concebendo essa germinação, esse broto, essa face, esses olhos de lua, a maçã do rosto, a miudeza tão singela, choradeira, soluçar, meu erê.


Quais serão as retomadas, os recuos, as limitações, os cheiros e gostos amargos que ficarão por debaixo da língua? Quais serão os desafios e glórias mesmo que planejadas não serão previstas, teremos de aprender improvisos, gambiarras, tecnologias e gestão, quais serão os sangues escorridos entre vida-morte-vida, os renasceres em claro na tentativa de cessar o seu choro, e as gargalhadas de uma boca banguela que saboreia o leite e morde o bico dos meus seios.


Quais serão as fantasias que irão desmoronar  primeiro e me farão refazer as rotas, qual a encruza que me cerca e me dará caminho, meu menino, pés ligeiros sobre a terra, será que vamos morar no campo, acordar com as árvores, ou traremos a serra pra dentro de casa a fim de estarmos mais perto dos mestres?


As vezes me pergunto qual será o nome dos meus filhos, e quais brincadeiras iremos inventar, como é que vai ser essa outra vida, como é que eles vão me acompanhar ao passo de como vou compreender o tempo deles, como é que o vento baterá no meu rosto, será que os banhos serão mais depressa, será que faremos travessias? Assim, meio ciganos, inquietos, com paixão pela inventividade, renasceres, meio em fuga e em rotas de liberdade.


Seduz o corpo em movimento e em diferentes faces, daquilo que rasga o peito, as pernas, os braços, a vagina, nascimento como em lua cheia, vida, parindo o infinito sob olhares, silêncios acompanhados de suor e sussurros gritados.


Um dia sentada na esquina de uma encruzilhada olhei nos olhos dela, ela mesma que usa saia rodada e gargalha na ponta da faca, ela me disse que eu seria feliz te recebendo, menino.


Será que meus filhos irão desbravar o mundo como fiz na juventude? Mesmo cheia de medos acompanhados com coragem, sem saber ao certo se é isso mas caminhando nas margens e nos centros do desejo? 


Agora, enquanto permaneço nos braços de quem confluo paixão, compreendo o caminho, preparo a casa, organizo algumas miudezas para serem desorganizadas e sigo arando a terra.

No mergulho, na musicalidade, neste seguir em grupo, aprendendo e tecendo a vida em comunidade.


Um preparo, cuidado, semeadura.


Nutrir, quais serão as músicas que farão parte dos meus dias e quais serão as dores que passarão pelo meu corpo, como será o enjoo de um corpo que carrega outro corpo e como é não ver mais os pés pela barriga estar grande?


Quais serão os textos que escreverei a fim de encapsular memórias, e se eu chorarei em algumas noites por cansaço, terei a esperança de acordar sorrindo cheia de olheiras estando um tanto feliz por ter estar realizando essa história.


Nas imensidões que me fazem fabular um futuro próximo, nas perspectivas do meu tempo, que é outro diante da Babilônia.


Sentir os seios fartos,  qual será a próxima etapa? O que farei para não te mimar e te tecer passarinho em liberdade se esquecendo um pouco de mim? Assim traçado pela inventividade.


E quando tudo deixar de ser história imaginada, te contarei baixinho mas em bom som como é que foi pra mim chegar até aqui.


Notas: Esse texto foi parido por Thaysa Santos em lua crescente, e a música que ecoava em seus ouvidos era "Drão - Gilberto Gil." A imagem foi retirada do Pinterest.







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