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Agenda Meriti 2030: Ousar incidir em São João de Meriti é ousar romper estruturas

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igreja da matriz em são joão de meriti
Foto: Reprodução / A(tua) Meriti.

Em uma sala de reunião do Google Meet, estávamos nós, três meritienses estudantes do ensino médio conversando sobre as inquietudes de sermos, justamente, três meritienses. Era novembro ou dezembro de 2021 e éramos parte de um grupo em comum, mas que nunca pautou São João de Meriti. Era hora de fazer alguma coisa.


Fizemos um grande toró de ideias com papéis colantes virtuais expondo tudo que a gente achava que era problema e soluções para eles. Aquela reunião poderia durar para sempre, por motivos de: São João de Meriti é São João de Meriti. Naquele momento, nasceu o que não achávamos que seria tão grande e que chegaria tão longe. Era o parto do que hoje chamamos de Coletivo Jovem A(tua) Meriti.


Resolvemos que tínhamos que conversar com as pessoas. Num contexto de muitos casos de violência política e uma polarização ainda muito acentuada, dialogar era fazer tudo o que aqueles que deveriam nos representar não fazem. Para as ruas, fomos nós com jornais financiados pela campanha Diálogos Periféricos do Engajamundo, uma iniciativa de comunicação sobre racismo ambiental nas periferias que eu e Fernanda Sena, uma das fundadoras da A(tua), fizemos parte.


No jornal, a gente resolveu colocar pra fora tudo o que pensávamos e já havíamos estudado, mas que nunca nos soou acessível em São João. No meio daquelas matérias curtas e intensas, havia uma específica que falava do documentário MEMÓRIAS - Raízes da Perifa, que contava um pouco do racismo ambiental em Parelheiros, no sul da cidade de São Paulo, e em São João de Meriti, na nossa amada Baixada Fluminense.


Enquanto distribuímos os jornais às pessoas, eu gritava pela Praça da Matriz que existia um Parque Natural Municipal que poucos conheciam, que o Rio Pavuna era navegável e que éramos jovens tentando fazer algo de diferente no nosso território. Algumas pessoas jogaram o jornal no lixo (pois não existe jogar fora), mas algumas outras nos ouviram e disseram que nunca tinham visto nada do tipo. É tão ousado assim se unir com amigas para repensar um lugar destruído por narrativas e práticas violentas?

manifestação hospital da mulher baixada fluminense
Foto: Reprodução / A(tua) Meriti.

Realmente, nós, que plantamos a semente A(tua), nunca vimos nada feito por jovens para jovens. Existem muitas formas de organizações belíssimas e necessárias na cidade, feitas por pessoas comprometidas e esforçadas, mas eu nunca tinha visto um grupo de pirralhos (como amam dizer por aí) se propor a pautar política pública para São João.


Ao longo do ano de 2022, pincelamos atividades importantes para o coletivo, como, como a produção de mais um jornal feito com apoio da Casa Fluminense e o importante-marcante VOZES DA BAIXADA. Com o financiamento da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil, o VOZESBXD, como chamamos, foi uma noite de 13 palestras curtas de 13 lideranças dos 13 municípios da Baixada. Contamos com atleta paralímpico, cientista, cantora sertaneja, de tudo. E é curiosíssimo pensar como fizemos tanto com tão pouca idade. Mas o que quero dizer mesmo não é isso.


Lá em 2021, eu e a Fernanda fizemos o Curso de Políticas Públicas de São João de Meriti, na época facilitado pela Nossa Meriti. Foram vários encontros em vários bairros para debater política pública e a ideia é que depois do fim deste curso rolasse uma consolidação das propostas desenvolvidas pela galera. Por N motivos, isso não aconteceu em 2022, um ano agitado na politicamente e pessoalmente para qualquer um.


Mas agora, em 2023, a gente queria que a A(tua) ganhasse forma e alcançasse outros espaços. E é aí que a Nossa Meriti entra, assim como a Casa Fluminense (a qual eu fui aluna do Curso de Políticas Públicas): cadê a agenda local de políticas públicas de São João de Meriti? O Fórum Rio, encontro anual da Casa, seria em junho e poderíamos pré-lançar o documento no evento. Topamos a ideia. Seguimos.

dia nublado são joão de meriti baixada
Foto: Reprodução / A(tua) Meriti.

Já existia esse material de diagnóstico do curso da Nossa Meriti, mas faltava reencontrar pessoas e rever desafios. Fazer escuta no corpo a corpo e entender as necessidades das pessoas. Pra poder fazer essa atualização, fizemos no total oito encontros, virtuais e presenciais, todos divulgados previamente pra quem quisesse chegar. Esse, na minha opinião, foi o processo mais gostoso de desenvolver o documento.


Apesar de todo o estresse dos bastidores, na chegada de cada encontro chegavam novas e novas ideias. Ouvimos pedreiros, professores, atores, pesquisadores, agentes de saúde. As nossas parcerias, como com o Projeto Inclusão de Éden e a Iniciativa Direito à Memória e a Justiça Racial, nos ensinaram que pensar política pública é pensar fora da caixinha e que se o nosso desejo é chegar longe, o caminho deve ser cruzado coletivamente.


Em um milagre dos tempos, a Agenda ficou pronta na metade de maio e no início de junho estávamos nós, no Fórum Rio de Queimados pré-lançando a Agenda Meriti 2030. Se sonhar é uma possibilidade, a realização do desejo é uma ordem. E o povo meritiense clama por isso. A Baixada como um todo clama. A cada pessoa que pegava a Agenda no Fórum, via uma espécie de espalhar de sementes.


Em julho, no Colégio e Curso Fator, a Agenda foi finalmente lançada para o povo de São João. Com a presença de pessoas que surgiram porque acompanhavam o nosso trabalho e de outras que descobriram porque divulguei via TikTok, aquele auditório ficou pequeno para o grito de urgência que todo cidadão de São João emite. As pessoas passavam os dedos pelas páginas na minha frente e eu via toda uma história de um coletivo que agora é maior do que esperávamos: a A(tua) tem a atuação de estudantes de direito, ciência política, engenharia e mais. Somos orgulhosamente meritienses e agora espalhamos a palavra da Agenda aonde for.


A Agenda Meriti 2030 tem mais de 80 propostas, ela está dividida entre: (1) Gestão e Transparência; (2) Educação; (3) Saúde; (4) Cultura; (5) Clima, Meio-Ambiente e Saneamento Básico; (6) Mobilidade Urbana; (7) Segurança Cidadã; (8) Assistência Social. Todo eixo tem um texto de diagnóstico e junto a ele, propostas de políticas, em sua maioria direcionadas ao poder público municipal.


Apesar dessa ser a nossa vontade, não pedimos nada extraordinário e distante, até porque a realidade não nos permite. Entretanto, muitas são propostas palpáveis e que exigem, simplesmente, vontade política. Já que esse texto é pessoal e não reflete a opinião do coletivo, e estamos falando de vontade política, ao longo dos encontros que fizemos, apesar dos convites, nenhum representante do poder público da cidade compareceu. Estaduais e federais também não. Isso diz muito.


Às vezes me pergunto se subestimam a nossa capacidade de jovens mulheres (a Atua é um coletivo majoritariamente de mulheres) de fazer alguma coisa, numa política municipal tão masculina e abertamente machista. Às vezes entro nas loucuras de achar que é arriscado. Às vezes me arrependo de abrir mão da tranquilidade de ser apenas mais uma que pensa que está tudo bem.


Mas provavelmente por isso a A(tua), assim como o BXD in Cena, existem: para mostrar que existe solo fértil de ideias plurais pra uma parte do Rio tão singular em suas complexidades. Gosto de pensar que esses atos começam pequenos e tomam possibilidades que não nos cabe controlar. E é isso que me apaixona nessa rede de conexões eterna que é a vida e é a Baixada Fluminense.


Encare este texto como um exemplo de que muita coisa que não se pensa pode acontecer. A A(tua) Meriti e a Nossa Meriti se permitiram sonhar e dividir esse sonho: por que você não embarca nessa com a gente? Ao longo dos próximos meses, esperamos tornar a Agenda mais conhecida pelas pessoas e que ela tenha vida própria: chegue onde quiser, como quiser, quando quiser. Mas que a gente a apresente com todo o carinho e preocupação com a qual ela foi gerada. E é assim que a política pública tem que ser feita e encarada.


É impossível acreditar que as coisas devem continuar como estão. E apesar desse ser o caminho mais árduo, é o que mais vale a luta.

Pôr do sol em Éden, São João de Meriti
Foto: Reprodução / Vinicius Vasconcellos.

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