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Caminhos de cura: nas construções dos ninhos que me aconchegam

Foto do escritor: Corpo TerreiroCorpo Terreiro

Descamação:

Se colocar em posição de vulnerabilidade não significa se descamar-vulnerabilizar em qualquer lugar, saber tecer nossos ninhos e onde nos asseguramos é a nossa arma mais poderosa, sabedoria -cabeça voltada ao sol, louvo a Jah- seguimos nas costuras, seguimos nos aprendizados. Nas sentenças que não nos condenam: não nos curamos sozinhos, se não com alguéns, com sonoridades, corporeidades, ancestralidade, arte, gingado e poesia. Um convite a minha cura para que possa pensar a sua, permito que se debruce, corpo quente, peito aberto, ombros e maxilar relaxados, respira


Imagem retirada do Pinterest


Nas camadas que aquebrantam o medo do ninho, volta e meia preciso de colo, morada, casa, lugar de pouso, escuta e atenção, construo esses espaços, volta e meia meus próprios braços não dão conta de segurar meu corpo e minhas mãos não alcançam minha cabeça pra me fazer um cafuné, volta e meia não quero meu próprio dengo, me pergunto como prosseguir.


Minha felicidade é querer compartilhar dos meus choros a alegrias, e pedidos de ninho nem sempre são só pedidos de cuidados mas também pedidos para cuidar


Olhar com maestria quem nos energiza e encarar as renúncias para canalizar e concentrar o compartilhamento dos nossos infinitos íntimos, nossos universos e paralisações


É preciso postura e sustentação


Não quero ser minha própria base, meu pedestal e coluna, não quero performar o ser absoluto, a figura da guerreira e da individualidade, quero poder ter outros lugares de pouso, corpos-quilombos, quero poder aninhar


Reconhecer que é um trabalho duplo, eu com meu próprio ninho e eu na construção de outras ninhadas com alguéns


Aqui e agora nas descamações vagarosas que me fazem perder o medo da vulnerabilidade pro outro e pra mim mesma -meditação tem me colocado no estado de presença, me desroupando das tensões que me travam, tensões essas adquiridas por autovigilância- reconhecer que só cresço ao entender e me lembrar que eu, só eu, não dou conta sozinha de mim, então peço e me lembro que só sou o que sou agora depois que muitas vidas, muitas mãos passaram por mim -há uma super valorização da individualidade diante do nosso tempo contemporâneo-digital, tempo esse que mídias sociais mais nos desaproximam do que nos conectam, reconhecer que ficar enjaulado com uma tela não nos salvará, não nos darão conforto, apenas os prazeres instantâneos mais baratos que ao gozo rápido voltamos para o mesmo estado de não presença, ansiedade- é preciso ousadia e prática cotidiana do que precisa ser feito, quando começar continue, continue e continue, atravesso o deserto segurando o medo nas mãos -vá com medo mesmo- são horas, são dias e semanas em reflexões, escutas e observações de como traçar esse caminho turvo e empoeirado que não me deixa falar em alto e bom som como preciso de outros-alguéns, a gente tem medo de se aproximar, né? Procuro algum ar livre, varanda ou terraço, forro um tapete, me sento cruzando as pernas, amoleço os ombros e descanso meu maxilar, inspiro o mais profundo possível soltando o ar pela boca até meu peito amolecer, fecho os olhos, ainda entro em estado de fuga dos meus próprios pensamentos, é uma inquietação sem fim mas me volto concentrando nos sons externos, seja qual som for


Surfando entre ondas e tecidos, mergulha-se no cuidado o coração que ginga nessa luta de construir nossa existência, saberes ancestrais sustentam meu corpo, dança-maestria. Vens sem pedir esse tempo bárbaro que dissipa no ar feito bala disparada pelo revólver, causando tumulto, desespero e ansiedades que venda nossos olhos ao ponto de não enxergarmos acomodações, que nos travam da comunicação que geram lapidações de outros lares


Construindo quilombos e aldeias nessa redoma -que não protege- ocidental


Sou a pólvora que sobra pairada no ar, lançada, cansada, feroz como os olhos da criança que pede colo, sem ter fala, sem saber pronunciar uma sílaba, olhos-gestos também falam, gritam, às vezes mais que a boca


Saber dizer, fazer pedidos, por outros meios, análises, observações minuciosas para encontrar nossos atalhos, kaminhos de cura, escrita sem distrações e sendo exercício diário -depois que passei alguns dias com o aplicativo Instagram desinstalado escrevi mais e melhor, me deparei comigo mesma, foi como um espelho -encarar renúncias para crescer


Forte todos os dias mas só mais forte por saber me despir da armadura, da performance de quem aguenta, malemoleia o corpo, derreto feito açúcar na quentura do fogo e em qualquer temperatura das águas


Coloco minha playlist Terra Sagrada | Reggae e danço na cozinha enquanto preparo café da manhã


Identificar seu melhor momento do dia, a tarefa mais desejada e se deliciar no tempo, sem pressa e sem demora


Nas envergaduras que acomodam o corpo cansado da guerra e disposta para o amor que cura e também se lança em cortes, cortes que se tornam portas para a saída dos nossos feitiços


Há instintos e o melhor de mim entranhados no magma, há em mim um vulcão prestes a entrar em erupção, daquelas que explodem até chegar aos céus, feito gozo, feito satisfação, plenitude, estado presente


Ouço o álbum Xinti de Sara Tavares -foi uma cantora e compositora portuguesa de ascendência cabo-verdiana- Esse álbum me trás bons ventos


Sonoridades que transmutam, recortam e orientam buscar o novo, daquelas que conversam, sussurra gritando-grita sussurrando


Nos kaminhos de dentru que reverberam no lado de fora, simbora nos desmontes que montam, nas impermanências, jogo de corpo no embate, no enfrentamento


Qual álbum te faz vibrar ao ponto de querer trocar a rota da vida? Que faz se dar conta do que precisa ser feito agora


Canção Keda Livre de Sara Tavares:


Arapuca na minha cuca, escuta

Em estado de sítio procuro a fagulha o indício

Fonte deste fogo de ofício transmutante

Que me percorre de norte a sul do inicio até ao recomeço

Silêncio fino respira, rouba meu chão descalça meus pés

Coração regressa a alma que se alinha radiosa

Eu, ela, sua própria queda em luz

Já fiz uma viagem longe

Longe fui sem sair do sítio

Dei a volta ao mundo

Na curva redonda do teu gingar

O amor é lindo

O amor é belo

O amor é sabi

O amor é titi

Tua beleza brilha todos os dias

Segunda, terça

Quarta, quinta, sexta

Sábado, domingo

Tantos humores, tantos sabores

É tutti-frutti

Aqui vou eu em queda livre

Aqui vou eu em queda livre

Teu olhar hoje traz-me esperança

E as vezes preciso de um olhar assim

P'ra saber que estás perto, o que sentes por mim

Tua amizade, cumplicidade é luz no meu coração

Não me largues a mão

Não me digas que não

Não me largues a mão

Não me digas que não

Anda dançar comigo

Vamos colar pelo umbigo

Eu contigo, tu comigo

Ser humano no amor fundido

Eu contigo, tu comigo

Ser humano é ser divino (yeah)

Aqui vou eu em queda livre

Aqui vou eu

Livre, livre, livre

Livre, livre, livre


Perder o medo de ser com o outro


Sigo na leitura do livro O Espírito da Intimidade, ensinamentos ancestrais africanos sobre maneiras de se relacionar por Sobonfu Somé -é possível encontrar o PDF disponível na internet-


Me encontro sobre as mãos delicadas que carregam calos, a qual segura com total maestria a linha laçada na agulha tecendo um lençol de remendos, de partes que já fui, tornando se um novo, um outro ainda sendo eu, lençol esse que me cobre nas noites escuras, seja sozinha ou acompanhada, lençol esse que me enrosca quando decido ficar sem roupas, lençol esse que forro a mesa para comer, lençol esse que carrego os meus pertences mais bonitos


Pedi que o tempo me desse paciência e respiro, pedi ao tempo que me ensinasse a arte da entrega, ainda me despindo das camadas que deixam meu corpo tenso, sem jeito, ainda nas descamações do constrangimento


O vento sopra nos meus ouvidos, eu vejo o infinito, me diz mansinho, mas é segredo e mesmo que eu diga tudo, ainda é mistério.


Instagram: @princesinhabxd

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1 Comment


suavepreta
Feb 21, 2024

Intenso

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rodape bxd in cena
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