
“Qualquer caminho serve pra quem não sabe onde vai”. Essa frase é clichê pra caramba, mas se torna bem real quando voltamos pra conversa sobre identidade(s) baixadense(s) que tento sempre trazer. Afinal, não dá pra tomar a decisão por mim de ser algo se eu não sei ao certo o que esse “algo” é, faz, representa, participa. Ser baixadense é mais que fazer parte de um território, como falamos no texto anterior: é também atribuir essa atividade a tudo o que fazemos e representamos socialmente.
Mas... o que é ser baixadense?
Acho importante nos definirmos e identificarmos como baixadenses, usar esse termo como reafirmação de espaços e territórios, o que nao pode acontecer (e acontece!!) é invisibilizarmos atividades e/ou vivências baixadenses por estarem longe demais de nós, ou pior: nos invisibilizarmos por estarmos longe demais.
Ambos os problemas são sintomas de uma crise de identidade de eventualmente atinge a população baixadense (e periférica de um modo geral), baseada no que falei no texto anterior: nossos objetivos estão fora daqui, nossas metas estão fora daqui, nossas aspirações e desejos se encontram fora daqui.

Stuart Hall diz em seus estudos sobre as identidades culturais que existem três pontos principais relacionados aos processos de globalização. Primeiro, que ela caminha em paralelo com um reforçamento das identidades locais; segundo, que ela é um processo desigual e que tem sua própria “geometria de poder”; e por último, que ela retém aspectos da dominação global ocidental[1].
Este último aspecto não só faz com que esqueçamos quem somos: nos leva a esquecer de entender o outro como parte do mesmo grupo que estamos, por causa de suas diferenças. Se meu vizinho, ainda que também baixadense, tem uma vida menos complicada do que a minha, este se enquadra num subgrupo, no qual logicamente não estou inserido. No entanto, se a experiência do outro é “pior” do que a minha, me sinto constrangido de me colocar no mesmo grupo que este.
Assim, ao passo que estamos nos setorizando e, como consequência, nos separando, perdemos a força do coletivo quando precisamos reivindicar uma melhoria geral. Afinal, não vou buscar por uma melhoria que não vá me atender, seja por estar “abaixo” do escopo da melhoria, seja por estar “acima”. De um jeito ou de outro, o rótulo é sempre o mesmo: “fora”.
Entendendo que somos um coletivo igualmente empurrado em direção ao esquecimento, podemos brigar – em conjunto – para mudar essa situação, não importando em que nível as coisas melhorem. De igual modo, podemos brigar com mais propriedade por quem vem trilhar o caminho no qual nós estamos, porém inicia agora. Sabendo quem sou, eu sei quem somos. Sei por quem batalho e quem batalha por mim.
A Baixada como unidade é um sonho meu, mas sei que tem gente que sonha juntinho comigo.

[1] HALL, Stuart. O global, o local e o retorno da etnia. As identidades culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
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