Este pequeno texto é dedicado aos iniciantes - aqueles que, impulsionados pela audácia e inquietude, ocupam espaços na crença de que o novo agrega, liberta e é singular. É um texto para todos nós, pois, como artistas e indivíduos, seremos SEMPRE iniciantes.
Em meio ao turbilhão criativo, pode ser difícil reconhecer o valor em cada gesto inicial, especialmente quando nos comparamos ao que já existe. No entanto, a abordagem construtivista nos convida a enxergar a grandeza em cada início/processo, independente de sua natureza.

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No construtivismo não há um começo definido, nem um fim claro. O importante é não associar a ideia de "início" a uma mera noção temporal.
Segundo Piaget (1967) acerca do construtivismo, o conhecimento não começa nem no sujeito nem no objeto externo a ele, mas na interação entre esses dois.
Ao aplicarmos essa perspectiva à música, compreendemos que ela não é determinada, mas sim moldada pela interação entre o artista e seu meio físico e social (enquanto este último também molda o artista). Portanto, nada está verdadeiramente pronto ou acabado - nem o artista, nem a música.
Podemos afirmar, então, que o cenário musical baixadense não é meramente um produto do ambiente nem apenas um reflexo das disposições internas do artista, mas sim uma construção contínua, resultado da interação entre ambos os fatores.
É importante considerar essas ideias sempre que formos pensar e analisar a música em geral e a música Baixadense... ou mesmo quando formos a festivais que trazem eu seu line pessoas que 'se consagraram' e que 'têm público' mas que também conta pessoas iniciantes.
Sem a presença do novo, o que já é consagrado não se mantém. Portanto, é tão importante estudar e apreciar a música de um iniciante como Jovi na música eletrônica quanto a de Jacquelone, pois ambos influenciam e são influenciados, contribuindo assim para a cena musical da Baixada Fluminense.
Todos os que ‘furaram a bolha’ tiveram que enfrentar o desafio do início. Quantos shows foram abertos por artistas que hoje são pilares dessa cena? Será que um dia reconheceremos que os espaços tradicionais também pertencem aos novatos? Com que frequência os grandes artistas são ignorados simplesmente por não possuírem números expressivos?
Essas perguntas não são meros devaneios. Esse cenário nos abraça e nos confronta todos os dias. Tudo porque não pensamos de maneira CONSTRUTIVISTA (por várias razões, e elas não serão citadas aqui).
Artistas, não criem com o objetivo de alcançar a ‘consagração’, mas sim para afirmarem-se como agentes construtivos do meio musical, ao mesmo tempo em que este os molda.
Como disse Emma Stone em seu discurso no Oscar, fazer arte é sempre sobre fazer parte de algo maior do que a soma de suas partes, algo que transcende o indivíduo, que o constitui.
Este texto é para todos nós, jovens e antigos poetas. Que possamos encontrar, na sinceridade de nossos primeiros passos, o valor que tanto ansiamos ver no "final", mesmo sabendo que esse final nunca chegará. Que nunca desistamos por causa disso.
Que nossa arte nunca esteja completa, mas que se renove a cada interação, a cada pessoa, a cada nota. Que sejamos sempre INICIANTES.
Instagram da autora: @carolinevercosa
Referência bibliográfica:
PIAGET, J. Les Courants de l’épistémologie scientifique contemporaine. In: PIAGET, J. (Org.). Logique et Connaissance Scientifique. Dijon: Gallimard, 1967.
Análises fundamentais pro cenário da Baixada
Muito bom!