
Você já reparou como tem diminuído os espaços verdes na sua cidade? Nos espaços de lazer que estão quase tornando-se extintos? No crescimento de lojas, prédios comerciais, estacionamentos e dos "atacadões"?
Dispomos cada vez menos de espaços verdes nos centros urbanos, arborizados ou aquilo que podemos considerar como espaços de lazer nos bairros — pensando aqui o lazer gratuito, não aquele promovido por shoppings e parques como o "play…”. Quando encontramos praças — nossa prefeitura (São João de Meriti) ama construir ou reformar praças próximo ao período eleitoral e dizer que faz algo por nós, só fica atrás de Caxias que coloca balanço de metal exposto AO SOL para queimar o bumbum das criancinhas — elas possuem pouquíssimas árvores, que resulta em diversos problemas, inclusive na falta de sombra, que o escritor José Saramago apontou como importantíssima para o desenvolvimento das crianças.
Não podemos nos esquecer que a vegetação também é um indicador de qualidade de vida, pensando que através da fotossíntese temos o sequestro do gás carbônico da atmosfera e a liberação do oxigênio, evitando o agravamento/surgimento de problemas respiratórios. O conforto térmico também é outro fator influenciado pela vegetação, assim como a melhor absorção/infiltração de água pelo solo, tornando as enchentes provocadas pelas chuvas menos catastróficas.
A seguir, veremos imagens de satélite, captadas pelo Google Earth (26/07/2023), para que seja possível fazer um comparativo entre as áreas nobres da capital e bairros populares de 2 municípios vizinhos.




O ambiente no qual vivemos está sendo cada vez mais ocupado e tratado como mercadoria, quando digo ocupado, não me refiro somente ao crescimento residencial, que é essencial para a vida do povo, mas sobretudo aos empreendimentos imobiliários. Redes de venda por atacado, estacionamentos, galpões logísticos, construções que geram lucros a uma parcela de pessoas as quais nem sabemos quem são, enquanto isso, nossa qualidade de viver só tem diminuído. O ar que respiramos está a cada dia mais poluído, o lugar onde vivemos com cada vez mais lixo, mais quente, mais suscetível a enchentes, e a prefeitura, o governo do estado ou sei lá quem, que deveriam pensar previamente os impactos e as políticas públicas para diminuir os efeitos, nada fazem por nós.
Quando pensamos a musicalidade e as denúncias do povo preto e periférico, o Racionais Mc's foi cirúrgico ao denunciar no álbum "Raio X do Brasil", mais especificamente na música "Fim de semana no parque" a diferença no lazer dominical das classes mais abastadas, que frequentam os parques, possuíam brinquedos diversos e aparelhos eletrônicos, ou seja, desfrutavam do melhor que o sistema capitalista poderia lhes oferecer naquele momento. Enquanto isso, as famílias menos favorecidas, longe das formas de diversão dispostas, das praias, clubes etc. são condicionadas ao vício através do alcoolismo e outras coisas mais. Infâncias que são marcadas pelo descaso, pela violência e pela perda compulsória de suas ingenuidades, aliás, como já foi denunciado na Revista Menó, quem afinal pode ser criança? Mas que elas, de fato, "também gostariam de ter bicicletas, de ver seu pai fazendo Cooper tipo atleta, gostariam de ir ao parque e se divertir, e que alguém as ensinasse a dirigir, mas elas só querem paz e mesmo assim é um sonho".
Tenho lembranças da infância, de campinhos de terra, brincadeiras de subir em árvores, uma certa "liberdade" que dispunha morando em uma rua sem saída, que talvez hoje nossas crianças não desfrutem mais.
A sensação que tive ao pensar e escrever esse texto é que, para esse sistema, nossa vida, as belezas que vemos nas pessoas e nos lugares que amamos, não passam de mera superficialidade, de mãos para trabalhar até exaustão, de espaços igualmente explorados. Como se fossemos fadados a viver assim, sem experiências/momentos de gozo, sem nos questionar qual é a estrutura que condiciona nossas vidas a ocupar esse lugar e viver o que vivemos. Lugar esse que é do descaso deles para conosco, mas também é da denúncia, da juventude que tem ocupado cada vez mais as universidades, os espaços de produção cultural, cantando sobre suas realidades e ajudando que outros também consigam lançar sua voz e pensamentos ao mundo. Vão tentar nos parar, mas quando olho ao meu redor, vejo que minha área, minhas pessoas me esperam. Transgredir é a regra… abraço.
Amei
Ótimo texto!