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Meu nome é Baixada

Foto do escritor: Corpo TerreiroCorpo Terreiro

Um céu com nuvens deixando escapar alguns pedaços azuis, em baixo, topos de casas, lajes, terraços e algumas árvores.
Bacia, São João de Meriti / Thaysa

Passarinho voa mas volta pro ninho. Quando a saudade do berço atravessa:

Quando comecei a me introduzir nas bandas da produção de cultura, andei pela Baixada inteira recitando minhas poesias e até quem eu admirava de canto já me conhecia, sempre nas miudezas, envergonhada, e ao mesmo tempo colocando meu corpo no mundo, sussurrando nos meus próprios ouvidos: quem não dá a cara tapa vive nos lençóis do medo, e eu não queria viver com o medo. E foi nessa peleja, nessa guerrilha, nessa ânsia que muitos jovens da baixada tem, da transformação territorial através da cultura, que eu tô chegando nos lugares que eu nem imaginava como possíveis e mesmo chegando nesses lugares que não são a Baixada, eu só consigo escrever e referenciar sobre o meu país Baixada Fluminense, minha City São João de Meriti, minha amante Belford Roxo vulgo Cidade do Amor e afins. Essa saudade é a força motriz.


Nessa produção de memória e cultura incessante que meu corpo traça quase que naturalmente, eu me enriqueço e enriqueço meu lugar. Cada vez mais meu envolvimento com a baixada se torna mais íntimo, quase um casamento, mas como sou não monogâmica, acabo flertando com outros territórios, como agora, atualmente morando em Nova Holanda-Maré.


É preciso cavucar a memória, caçar a história do nosso lugar, "Viver sem conhecer o passado é viver no escuro" essa frase da animação brasileira Uma História de Amor e Fúria nunca sai da minha cabeça, me instiga a contar cada vez mais sobre a BXD e quebrar com os estigmas, com os silenciamos e apagamentos históricos, assim, quebrando com a história única.


Eu chamo tudo isso de pertencimento, identidade, família, berço e acolhimento, essa saudade me impulsiona, e todo fim de semana eu vou para as bandas baixadenses viver, coletar insumo para os textos e potencializar o corre dos friends, passei a ter certeza que meu pé descalço dança mais bonito nos solos da BXD, sempre que saio retorno, retorno e retorno, e essas saídas nunca são inteiras.


Arlindo Cruz canta "Meu nome é favela" e eu canto "Meu nome é Baixada".

Muito se diz dos jovens que sonham em sair da baixada e esse é um sonho vendido, mas eu pergunto, como querer viver em um território permeado de baixa estima territorial, não financiado, violentado e que na maioria das vezes é referenciado sendo jogado no pejorativo?


Pois bem, trago perguntas e algumas respostas, dá pra driblar acreditando nos nossos e em si mesmo, saindo dos lençóis do medo, botando a cara no nosso próprio território-mundo, afunilando o olhar para as belezas baixadenses, se debruçando nas tecnologias ancestrais e de sobrevivência, caçando nossos caminhos, quem tá caminhando por onde eu/tu quer caminhar? Se junte, só come docinho quem senta perto da mesa e é aí que a perspectiva se amplia, que as possibilidades de futuros se abrem na nossa cara, bem de pertinho quase que colando um cílio no outro.


Thaysa vulgo Princesinha



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