
Foto: Esquina da Via. Maressa Cardoso.
“Você precisa conhecer minha jurisdição, vá prestando a atenção. Lugar que ocupa um pedaço do meu coração, do meu coração…”
Os versos acima, cantados por Bezerra da Silva, ilustre sambista acolhido pela boemia baixadense, demonstram um pouco do carinho por essa extensa região conhecida como Baixada Fluminense. Na canção, o músico valoriza os bairros e cidades, ressaltando que a fama é de “barra pesada”, mas que o lugar vai para além dessa imagem de violência.
A Baixada é um lugar multicultural, histórico e muito importante, onde residiam e ainda residem figuras marcantes na história do Brasil, como João Cândido e Zeca Pagodinho. Nessa coluna, intitulada: ReXpeita a minha História, o objetivo é trazer um olhar histórico para construir coletivamente algumas narrativas sobre a nossa querida Baixada, munida de uma trajetória que não se resume somente à exploração e a falta de acesso, mas que abrange também incontáveis resistências, lutas e a construção diária da arte, da cultura e da educação, na maioria das vezes de maneira independente. Aqui, é lugar de produção cultural, desde sempre. É terra indígena, terra do povo negro, terra de gente que luta, mas que também ri, chora e que organiza coletivamente o lazer.
Geralmente, na época da escola, aprendemos um pouco sobre a história de cada município que engloba a BXD (e põe pouco nisso!), mas não passam de algumas histórias rasas e corridas diante de tanto conteúdo “mais importante”. Porém, a nossa história local é MUITO importante e bem extensa. Nesse espaço, que é quase que informal, o objetivo é trazer um pouco dessas diferentes históriaS que cercam a nossa Baixada, Temos que valorizar os nossos lugares de memória, que por descaso estatal (quase proposital), vêm se deteriorando cada vez mais. Alguns órgãos e instituições como a UFRRJ - IM já vêm fazendo um bom trabalho de busca pela memória e preservação, mas é preciso divulgar cada vez mais esses trabalhos e fazer com que a população esteja envolvida e apegada ao valor de se preservar esses locais. É importante entender de onde a gente veio, traçar essa trajetória para podermos olhar criticamente o que nos faz viver nesse contexto em que vivemos hoje.
Nossa querida região guarda a história da capoeira, do samba, do funk, do rap, da mpb, do jazz, do R&B, das danças clássicas, do teatro, da literatura, das rodas culturais, da agricultura, da imigração e por aí vai. A violência, o apagamento, a falta de acesso a inúmeros serviços, a alienação cultural e governamental é sim uma realidade gritante, mas não é só nisso que se resume esse lugar. A Baixada é um organismo vivo e coletivo que se movimenta na sua própria realidade. E que consegue gerar resultados surpreendentes desse movimento. Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo, Mesquita, Queimados, Japeri, Paracambi, Seropédica e Itaguaí são muito mais do que cidades dormitório, de onde saem os trabalhadores todos os dias em direção ao Centro. São cidades históricas e culturais, temos que valorizá-las. Assim espero fazermos aqui.
Até a próxima :)
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