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- Aqui a gente corre mais.
Pensar em identidade(s) baixadense(s) nos faz pensar não só em como o baixadense é visto por quem é de fora, mas também como a população da Baixada se enxerga inserida (ou não) na sociedade. Afinal, se alguém não se sente pertencente a um grupo social, seja ele qual for, logicamente esta pessoa coloca-se – inconscientemente e longe de qualquer acusação de alienação – num lugar onde as pautas que deveriam estar sendo debatidas e as que estão sendo debatidas não a competem. Essa falta de consciência da relevância de certas pautas geram uma lacuna onde a discussão que interessa não alcança, enquanto a discussão fútil chega rápido como uma bala. Diante disso, vale ressaltar o quanto somos empurrados para o esquecimento diário de quem somos, a começar pelas escassas oportunidades de emprego/trabalho que nos forçam a logo no início do dia sairmos de nosso território natal em busca – literalmente – de sobrevivência. Lutamos pelo nosso pão de cada dia fora de nosso território, é óbvio que não iremos entender que essa subsistência pertence a nós. Vamos pensar um bocado: não entendemos que nosso território é nosso lugar; e mesmo com a plena consciência de que estamos nos deslocando para conseguir nosso sustento, nosso local de trabalho também não é nosso lugar. Qual é o nosso lugar, então? Isso reforça a sensação de cansaço extremo, uma vez que estamos sempre em movimento, nunca descansando, nunca aproveitando nem os lugares nem as pessoas ao nosso redor, sempre em busca de algo. Sempre na correria por algo. Talvez por isso o cansaço inevitável quando não alcançamos os objetivos ou cumprimos com expectativas que nós mesmos criamos. Se somos demitidos, é por causa da Baixada; se é difícil deslocar-se até a pessoa amada, é porque a Baixada é longe; se não conseguirmos sair para outras regiões – para desfrutar do que já existe aqui porém sem a mesma repercussão e prestígio – é porque a Baixada é longe demais para aproveitarmos atrações e eventos que outras regiões do Rio de Janeiro oferecem. Parece que, fora da cidade do Rio e dos centros urbanos, o Rio de Janeiro (estado) não acontece. Precisamos encontrar em nosso território baixadense o nosso lar. O nosso abrigo. Nossa diversão. Chega de sairmos para outras regiões do estado do Rio de Janeiro para “aproveitarmos” o que já tem aqui. Existem movimentos acontecendo que retiram de nosso território o rótulo de “cidade dormitório” ou “concessionária do crime”, e passam a nos identificar como um povo trabalhador, esforçado, criativo e revolucionário. A Baixada é nossa casa. Ajamos como tal.
- Conheçam o RnB Brazil e o que tem a ver com a BXD!
Página conta com mais de 17 mil seguidores no Instagram, considerada a maior do segmento R&B. Primeiramente, o que é R&B? Rhythm and blues ou R&B é um termo comercial introduzido nos Estados Unidos no final da década de 1940 pela revista Billboard. O termo foi usado originalmente para descrever gravações comercializadas predominantemente por artistas Afro-americanos, num momento em que um estilo baseado no jazz com uma batida pesada e insistente estava se tornando mais popular. Qual a origem do R&B no Brasil? No Brasil Tim Maia, Cassiano, Hyldon, Carlos Dafé, Djavan, Jorge Ben, Sandra de Sá ajudaram a incorporar e consolidar dentro da música pop o estilo, incorporando elementos da música brasileira e enriquecendo ainda mais o desenvolvimento da fusão de ritmos que o R&B abrange desde os seus primeiros dias. R&B na BXD Nassor de Oliveira Ramos, 29 anos, nascido no no Rio de Janeiro, hoje morador de São Paulo. Desde muito jovem teve contato com a Black Music, R&B, Charme e pagode, mas seu momento na Baixada Fluminense é marcado principalmente pela vivência nas igrejas Ministério Apascentar, Renascer em Cristo e PIB Cosmorama quando conheceu o "groove espiritual", no som de Quarteto FLG, Clóvis Pinho, DJ Alpiste, entre outros que ditariam seu gosto musical ao longo dos próximos anos, quando encontrou os encantos de Madureira, o seu samba, e charme. Conheça o RnB Brazil O Coletivo R&B Brazil nasceu inicialmente enquanto @randbbr no Instagram, uma página inicialmente dedicada a divulgar o trabalho de artistas direcionados ao gênero R&B Brasileiro, por entenderem que muitas vezes o gênero é confundido com outros ou não encontra plataformas adequadas para sua divulgação. Afinal, você já deve ter ouvido diversas músicas de R&B divulgadas como "Pop", "Black", "Charme", "Trap", "LoveSong", entre outros. O perfil não foi criado no intuito de desmerecer quem usa dessas nomenclaturas, mas para fazer entender que o gênero já faz parte do dia a dia do brasileiro, só a nomenclatura e possível afastamento faz parecer uma realidade distante. Após um ano de existência o que era apenas para ser um projeto de divulgação online passou a chamar a atenção tanto de artistas como de articuladores que, ao tomarem conhecimento do projeto, enxergaram na plataforma uma possibilidade de integrar e organizar oportunidades para uma cena que vinha se aquecendo. O artista baiano Netto Galdino tem papel importantíssimo nessa história, ao trazer sua experiência com articulação e trabalhos audiovisuais, sugerindo a mudança de nomenclatura da página de @randbbr para @rnbbrazil, bem como uma identidade visual mais adequada. No momento em que a página atingia novos olhares, ela também propôs, de forma inovadora à época, a apresentação de vídeos no formato de posts, uma vez que se tratando de novos artistas, seria um pouco difícil demonstrar ou apresentar qualquer trabalho apenas através de imagens. Assim, o trabalho alcançou o audiovisual. A página foi notada e teve colaboração de artistas e articuladores de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, como Cantor Dom (União Charme Brasil), DJ Michel (Viaduto de Madureira), Marcus Azevedo (Eu amo Baile Charme e Sarau do Azevedo) e Jay Emme (P.Q.P e diversas intervenções locais no Rio de Janeiro), Ananda Savitri (3º Round) e Jeferson Devon. Foi com o advento da pandemia, em 2020, quando toda a indústria musical se viu abalada e diante de um enorme desafio, que Nassor Oliveira Ramos, idealizador inicial do projeto, junto a Netto Galdino, Disstinto e Rodrigo Cartier realizaram uma série de reuniões, através das quais o projeto começou a tomar a forma que conhecemos hoje. Assim, um portal em formato de site, com manutenção que conta com a contribuição e incentivo de artistas consolidados como CEEJAY, onde recebemos diversas matérias de qualidade profissional do artista paulistano Matheus Caettano, e a introdução de seu então parceiro de composição, Christoffer. Momento pós-pandemia Antes, durante e depois da pandemia a @rnbbrazil vem conquistando e fomentando espaços presenciais e online de articulação para a cena, por dois anos a equipe estruturou uma premiação direcionada 100% a atores da cena, e a proposta é continuar fazendo o mesmo. O portal R&B Brazil ficou fora do ar por aproximadamente 7 meses, mas o coletivo não parou. Na continuidade de suas atividades, se conectaram ao articulador cultural e artista baixadense Jéz, que está movimentando cultural e organicamente a juventude da baixada através de eventos e produções musicais. Contam também colaboração dos cariocas FELL e Luis Fortes, que junto aos artistas mencionados aqui, são grandes responsáveis pelo oxigênio que movimenta a iniciativa. SIGA NAS REDES SOCIAIS @rnbbrazil
- SERGINHO MERITI, O COMPOSITOR MAIS ADMIRÁVEL DA BAIXADA.
“Deixa a vida me levar, vida leva eu” Com certeza você já ouviu na voz de Zeca Pagodinho alguma composição de Serginho Meriti e a mais memorável é: Deixa vida me levar, música da copa de 2002, ano inclusive que fomos pentacampeões, música ganhadora do Grammy Latino em 2003. Serginho Meriti (Sérgio Roberto Serafim), nascido em Madureira e criado em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, carrega Meriti em seu nome e sempre conta o quanto já era difícil ser músico na baixada. Por exemplo, por mais que tivesse um violão, se uma corda arrebentasse tinha que ir até Madureira somente pra comprar cordas novas. Em 1976, Serginho Meriti gravou o seu primeiro disco – “Olé do Partido Alto Samba”. O primeiro parceiro em composições foi Carlinhos PQD. Em seguida, conheceu um dos seus grandes parceiros da vida: Bebeto. O cantor paulistano gravou 36 músicas de Meriti. Também foi gravado pelo conjunto Copa 7, no auge dos bailes da periferia. Essa parceria foi muito importante para Serginho, fazendo com que no álbum seguinte de Bebeto em 1981 intitulado de Batalha Maravilhosa, álbum de doze faixas o compositor assinasse pelo menos onze. Inclusive, sua primeira composição de destaque foi para Bebeto, com Neguinho Poeta, em 1980. Roberto Menescal, um dos fundadores do movimento Bossa Nova contratou o artista para seus três primeiros discos lançados pela gravadora Polygram (atualmente Universal Music) o primeiro “Bons Momentos” (1981), seguido por “Vida tão bela menina” (1982) e por “Bem Natural” (1984). Gravado por grandes nomes como Mauro Diniz, Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra, Fundo de Quintal, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Neguinho da Beija Flor, Alcione, Mussum, Bezerra da Silva, Elza Soares, Maria Rita, Mart’nália, Diogo Nogueira, Xande de Pilares e Maria Bethânia, Serginho consolidou sua brilhante carreira de compositor. Serginho Meriti conhece Zeca Pagodinho Zeca Pagodinho costumava fazer o “Bate Bola do Zeca”, onde acontecia o encontro de músicos, compositores e amigos, geralmente acontecendo em Xerém, Duque de Caxias. Num desses encontros, Serginho, junto a seu amigo Bira da Vila, também compositor baixadense, apresentaram uma canção pra Zeca, que prontamente soube que a partir dali Serginho seria um grande parceiro em suas músicas. A música “Deixa a vida me levar” quase não entrou no disco, pois Serginho já teria apresentado uma outra canção pra Zeca num outro momento e o mesmo já tinha aprovado essa outra canção, até que seu amigo Claudinho Guimarães lembrou que ele tinha essa música e pediu para apresentar para o Zeca. Assim, Serginho começou a cantar: “Eu já passei por quase tudo nessa vida / Em matéria de guarida espero a minha vez. / Confesso que sou de origem pobre, mas meu coração é nobre / Foi assim que Deus me fez”. E sim, essa música foi a mais importante de sua carreira, mas como Serginho Meriti já disse uma vez: “A música principal ou a mais importante sempre será aquela que ainda vou escrever. ” Nos anos de 2020 e 2021, impossibilitado de fazer shows, em decorrência da pandemia, dedicou-se intensamente ao trabalho de composição, produzindo mais de 100 novas obras. Quando eu conheci Meriti Eu sou colecionador de discos e meu primeiro contato com Serginho Meriti foi num desses garimpos da vida feito exclusivamente numa feira livre na Baixada. Lembro de encontrar seu segundo vinil gravado “Vida Tão Bela Menina” - disco esse que nem no Spotify tem e que guardo com muito carinho. Nasci em Duque de Caxias, porém fui criado toda a minha vida em São João de Meriti. Ter um disco que o nome do artista leva o nome de minha cidade me faz ter mais orgulho de ser baixadense, legitimando todos que vieram antes de mim e confirmando que Baixada é Samba, Baixada é Soul, Baixada é Jazz, Baixada é Rock, Baixada é Baixada. E nesse contexto de conhecer Meriti, levo minha vida por aqui, afinal de contas: “E aos trancos e barrancos lá vou eu, sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu. ”
- Meu nome é Baixada
Passarinho voa mas volta pro ninho. Quando a saudade do berço atravessa: Quando comecei a me introduzir nas bandas da produção de cultura, andei pela Baixada inteira recitando minhas poesias e até quem eu admirava de canto já me conhecia, sempre nas miudezas, envergonhada, e ao mesmo tempo colocando meu corpo no mundo, sussurrando nos meus próprios ouvidos: quem não dá a cara tapa vive nos lençóis do medo, e eu não queria viver com o medo. E foi nessa peleja, nessa guerrilha, nessa ânsia que muitos jovens da baixada tem, da transformação territorial através da cultura, que eu tô chegando nos lugares que eu nem imaginava como possíveis e mesmo chegando nesses lugares que não são a Baixada, eu só consigo escrever e referenciar sobre o meu país Baixada Fluminense, minha City São João de Meriti, minha amante Belford Roxo vulgo Cidade do Amor e afins. Essa saudade é a força motriz. Nessa produção de memória e cultura incessante que meu corpo traça quase que naturalmente, eu me enriqueço e enriqueço meu lugar. Cada vez mais meu envolvimento com a baixada se torna mais íntimo, quase um casamento, mas como sou não monogâmica, acabo flertando com outros territórios, como agora, atualmente morando em Nova Holanda-Maré. É preciso cavucar a memória, caçar a história do nosso lugar, "Viver sem conhecer o passado é viver no escuro" essa frase da animação brasileira Uma História de Amor e Fúria nunca sai da minha cabeça, me instiga a contar cada vez mais sobre a BXD e quebrar com os estigmas, com os silenciamos e apagamentos históricos, assim, quebrando com a história única. Eu chamo tudo isso de pertencimento, identidade, família, berço e acolhimento, essa saudade me impulsiona, e todo fim de semana eu vou para as bandas baixadenses viver, coletar insumo para os textos e potencializar o corre dos friends, passei a ter certeza que meu pé descalço dança mais bonito nos solos da BXD, sempre que saio retorno, retorno e retorno, e essas saídas nunca são inteiras. Arlindo Cruz canta "Meu nome é favela" e eu canto "Meu nome é Baixada". Muito se diz dos jovens que sonham em sair da baixada e esse é um sonho vendido, mas eu pergunto, como querer viver em um território permeado de baixa estima territorial, não financiado, violentado e que na maioria das vezes é referenciado sendo jogado no pejorativo? Pois bem, trago perguntas e algumas respostas, dá pra driblar acreditando nos nossos e em si mesmo, saindo dos lençóis do medo, botando a cara no nosso próprio território-mundo, afunilando o olhar para as belezas baixadenses, se debruçando nas tecnologias ancestrais e de sobrevivência, caçando nossos caminhos, quem tá caminhando por onde eu/tu quer caminhar? Se junte, só come docinho quem senta perto da mesa e é aí que a perspectiva se amplia, que as possibilidades de futuros se abrem na nossa cara, bem de pertinho quase que colando um cílio no outro. Thaysa vulgo Princesinha
- O Fazer baixadense é Identidade baixadense
Ser baixadense e estudante de universidade federal é uma dor e uma delícia. Uma delícia porque é assim que a gente legitima que o nosso espaço - apesar de moradores da Baixada Fluminense conhecida como "dormitório" - é onde nossos sonhos podem nos levar, e que o ambiente universitário é sim uma possibilidade. Uma dor foi drama da minha parte, mas é de se incomodar o quanto que a realidade de pessoas que moram relativamente perto, no mesmo estado, porém em outras regiões mais acessíveis, por assim dizer, seja tão diferente. É inevitável ouvir coisas como "você nunca fica até mais tarde quando saímos!", sendo que nenhum dos presentes entende a dificuldade no transporte pra voltar pra casa. Enquanto alguns podem escolher voltar às 2h, ou eu volto às 23h ou só no outro dia lá pelas 4h30m. Não me incomodava tanto que não notassem essa diferença até perceber que, apesar do esforço de sair daqui para as outras zonas/regiões fluminenses ser exatamente o mesmo de vir de lá pra cá, a galera demonstra um cansaço só de pensar em vir a algum evento ou atividade que acontece por aqui. Aqui também tem coisas acontecendo, se as pessoas se deslocarem até os locais onde acontecem. Durante a pesquisa que faço sobre masculinidades, orientado pelo Prof. Leandro Teófilo de Brito, passamos pelo conceito de Identidades Culturais e as coisas começaram a ficar mais claras na minha cabeça sobre a realidade da Baixada Fluminense. Numa das leituras, esbarrei na ideia de que o que antes era proporcionado através das tribos, da população e da religião passou gradualmente a ser transferido para as próximas gerações através da chamada cultura nacional. Um único jeito de fazer algo e, portanto, ser adjetivado como pertencente daquele grupo. A questão é que desta forma não se problematizam vários jeitos de ser a mesma coisa, porém um único modus operandi é "costurado" e constitui, de forma hegemônica, o que significa ser tal coisa[1]. Por exemplo, temos o famoso "jeitinho brasileiro", a "malandragem" tão falada. Toda a população brasileira age desta forma? Acredito ser difícil afirmar isso com certeza. No entanto, já está inconscientemente engessada a ideia - em alguma medida, internacional - de que o brasileiro é identificado por fazer de tudo pra sair por cima de algo, inclusive burlar regras e forjar tangentes pra sair. Quando entendi este processo de identificação, pude também concluir que não adianta o quanto eu tente, ninguém nunca vai olhar pelo meu ponto de vista, mas isso não é necessariamente ruim. Aceitar que minha identidade é, também, baixadense também é aceitar que vou me deslocar, trabalhar, me divertir, me concentrar em tarefas, estudar, etc. sendo atravessado, entre outros eixos, pelo território no qual estou inserido. O território baixadense onde vivo determina que o que eu faço é Baixadense. Seja na 25 de Agosto ou em Paracambi; seja na Via Light, Nova Iguaçu, ou na Praça do Cotia, em Parada Morabi. Seja em Cabuçu ou na Automóvel Clube em São João: A Baixada continua sendo Baixada, e o produto cultural que atravessa limites geográficos continua sendo baixadense de origem. [1] HALL, Stuart. As culturas nacionais como comunidades imaginadas. As identidades culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.





