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- Coletivos de São João de Meriti lançam formulário com objetivo de levantar necessidades de moradores e prestar ajuda
Coletiva Margaridas, Coletivo de Mulheres Yepondá e Redes de Cozinhas Solidárias em São João de Meriti lançam formulário para realizarem levantamento de necessidades dos moradores afetados pelas enchentes do último fim de semana e assim direcionar as arrecadações. A Coletiva Margaridas também está arrecadando alimentos não perecíveis, água, roupas de cama, produtos de limpeza e itens de higiene pessoal. Como doar: Pontos de arrecadações: Gato Negro Pub - Rua Professor Alcibiades Monteiro, 1651, Vilar dos Teles, São João de Meriti. (aberto todos os dias das 18h às 23h) Sepe SJM - Rua São Pedro, 145, Centro, São João de Meriti. (aberto de segunda à sexta das 10h às 12h) PIX: coletivamulheresmargaridas@gmail.com
- Saiba como ajudar em São João de Meriti
Em decorrência das fortes chuvas, moradores, coletivos e instituições de São João de Meriti se mobilizam para apoiar quem perdeu tudo na enchente do último fim de semana. Saiba como ajudar e ser ajudado. R.A Refrigeração se mobiliza para ajudar moradores que tiveram a geladeira danificada devido às enchentes, basta entrar em contato que farão a manutenção gratuitamente: Contatos: (21) 97515-4897 - Fernanda / (21) 9659-85278 Rafael Salão Taty Coiffeur se mobiliza para arrecadar alimentos não perecíveis e materiais de limpeza. Como doar: Ponto de arrecadação: Av. Domingos Alves, 151, Éden, São João de Meriti Sol Braides trancista Marisol Ferraz se mobiliza realizando atendimentos solidários para ajudar famílias que perderam tudo. Como ajudar: R$15,00 + 1Kg de alimento não perecível você tem direito a Nagô topo ou lateral R$15,00 + 2Kg de alimentos não perecíveis você tem direito a Nagô tiara R$15,00 + 5Kg de alimentos não perecíveis e você tem direito a Boxeadora ou Ghana (apenas a mão de obra) O valor é pelo custo de materiais (pomada, etc) Contato: (21) 99064-8129 Futebol Beneficente se mobiliza para arrecadar alimentos não perecíveis e roupas. Como ajudar: No dia 17/01 (quarta-feira) será realizado um futebol beneficente no CIEP 030 às 19:00h, basta ir até o local e levar 1Kg de alimento e quem tiver, roupas para doação. Endereço: Rua Katar Rechuan 507, Éden, São João de Meriti Associação Cultural e Esportiva Iolanda Portela se mobiliza para arrecadar alimentos não perecíveis, água, produtos de higiene, itens de limpeza e roupas. Para doar entre em contato ou vá até o local: Contatos: (21) 97290-3615 ou (21) 97009-1150 Ponto de arrecadação: Rua Guianas, lote 9, quadra 18, Jardim Meriti, SJM, Cep 25555-570 Coletiva Margaridas se mobiliza para arrecadar alimentos não perecíveis, água, produtos de higiene, itens de limpeza e roupas de cama. Como doar? Pix: coletivamulheresmargaridas@gmail.com Pontos de arrecadações: Gato Negro Pub: Rua Prof° Alcibiades Monteiro, 1651, Vilar dos Teles, São João de Meriti. (Todos os dias das 18:00h às 23:00h) Sepe SJM: Rua São Pedro, 145, São João de Meriti, CEP 25515-270. (Segunda a Sexta das 10:00h às 12:00h) Centro Cultural Meritiense se mobiliza para retirar a segunda via de documentos perdidos na enchente. Como chegar: Endereço: Rua panamense, 23-76, Jardim Meriti, São João de Meriti, CEP 25555-740 Movimenta SJM se mobiliza para arrecadar alimentos não perecíveis, água, itens de higiene e produtos de limpeza. Como doar? Pix: (21) 96617-4549 Ponto de arrecadação: Rua Mapai, lote 1, quadra 55. (Assembléia de Deus de Jardim Metrópole) Associação de moradores do Jardim Metrópole se mobiliza para arrecadar alimentos não perecíveis. Como doar? Ponto de arrecadação: Avenida Aguinor Chagas dos Santos, 375. (Antiga Avenida Paris)
- Transportes e direito à cidade
Em uma cidade não muito longe mas que poderia ser a sua, Carol tenta chegar ao seu bairro após as 23h, depois de um longo dia de trabalho, mas sem sucesso. Ao ligar a TV, ouve no primeiro jornal da manhã os transtornos que irá enfrentar para chegar ao serviço, novamente os trens estão atrasados, parece que cortaram os cabos… todos os dias há uma justificativa diferente, elas mal importam. “Precisam de nós para trabalhar, mas nem ao menos conseguimos chegar lá…” Recorreu ao ônibus, depois de esperar em uma fila que parecia interminável e mal conseguia respirar… chegou. Alívio? Enquanto isso, sua filha Tina que ficou em casa precisa visitar a avó, que passou por um procedimento médico e precisa dos seus cuidados. Apesar de morarem na mesma cidade, Tina não consegue chegar lá sem pagar duas passagens… pensou em uma alternativa, pois não seria de forma alguma viável pagar um valor tão alto. Irá pegar apenas um com seu cartão escolar e andar o restante do caminho a pé. Indignou-se. Como poderia não haver um transporte direto? Se as pessoas que moram lá vivem no corre, por que cobrar mais? Carol trabalhou de 10h às 21, foi um dia difícil, estamos próximos do natal e quem trabalha no comércio sabe. No fim do seu turno ela foi em direção a estação, tudo lhe parecia normal, o movimento de chegada das pessoas subindo as escadas, umas atrás das outras, os vendedores, o vai e vem das composições… finalmente o seu trem chegou, conseguiu ir sentada. Que milagre, agradeceu em pensamento. Olhando pela janela, pôde contemplar a paisagem já escurecida pela noite. Nunca havia se questionado o porquê todos os dias estar sobre aqueles trilhos, indo e voltando. Já que precisaria retornar no dia seguinte, não seria mais fácil morar ali? Seu tempo é comprado pelo seu empregador, que a pressiona para alcançar a meta. 8 horas por dia, 6 dias por semana. Durante seus dias de trabalho não consegue ir à sua mãe, também não consegue frequentar as aulas na escola que se matriculou, ir ao mercado ou na igreja. Todo seu tempo é para produzir. Seria ela, então, parte dessa circulação de riqueza?! Enquanto isso, Tina vai conciliando sua vida como pode. Sai da escola e vai direto ficar com a sua avó, hoje houve comunicado de que a água seria cortada para manutenção, terá que ir buscá-la na casa de uma conhecida na rua de baixo. Quando parou para revisar os cadernos, avisou que um exercício não estava feito, sentou-se e foi terminar. Leu um texto sobre o mercado e como ele interfere em sua vida, na regulação do tempo, dos lugares que pode circular e sobre a periferia em que mora. Uma palavra esquisita, P-E-R-I-F-E-R-I-A. A concentração de riqueza de alguns locais valoriza-o quando comparado a outros, digo, melhores estruturas das ruas, esgotamento, coleta de lixo, transportes, segurança, educação… Essa palavra tão nova lhe apontou algo a muito tempo conhecido, estar às margens, nos arredores onde as desigualdades são latentes, profundas. Em um mundo onde tudo gira em torno de dinheiro, colher seus frutos através da exclusão mostra que seus interesses estão longes de serem atendidos. Nos momentos que estava descolando-se de casa até seu trabalho, Carol lembrou-se de ter vindo de um lugar muito distante quando ainda era criança. Ela, o irmão e a mãe foram morar numa casinha próxima ao rio, muito humilde, que contava com apenas 3 cômodos. Ao passar dos anos conseguiram se mudar para um lugar melhor, mas sentia falta de sua mãe, que tanto trabalhava para poder dar-lhes de comer e ajudar nos seus estudos. Sentia que no fundo, a vida na cidade era uma prisão perpétua onde ela se deslocava forçadamente, dia após dia. Sentia-se indesejável, usada e depois trancada em casa. A necessidade de escrever este pequeno conto surge da nossa dificuldade em ter acesso a alguns bairros/espaços da cidade, por conta da baixa oferta/qualidade dos transportes públicos dentro da lógica mercadológica que é oferecida para nós, onde todas as coisas aparentemente podem se tornar um produto, e todo produto atende uma demanda daqueles que precisam dele. Em uma disciplina da faculdade onde pensamos a democratização do acesso ao transporte e sua expansão para novos locais, foi pensado por mim e uma outra estudante (Ana Carolina Barroso)um esquema de integração da Baixada Fluminense. Nosso critério foi conseguir atender um número maior de pessoas em bairros densamente habitados, aproveitar a malha ferroviária já existente, propondo melhorias, mas sobretudo, conexão entre as estações de trem através do Veículo Leve sobre Trilhos, o VLT, que utilizaria parte das ruas para sua instalação. Essa é uma tentativa de integrar cidades que são vizinhas mas que possuem três ramais de circulação diferentes, onde o passageiro precisa ir à estação de Triagem (no caso Belford Roxo-Gramacho) ou Maracanã para voltar à Baixada. É uma alternativa que, a longo prazo, gera mais benefícios aos usuários, pois requer baixa manutenção e é movido à eletricidade. A curto prazo temos a locomoção mais rápida que os ônibus, acomoda mais pessoas de uma única vez, é mais confortável e uma boa opção para diminuir os congestionamentos aliado a uma forma menos poluente de se transportar. Uma opção pouco explorada pelas empresas de transporte é o transporte fluvial, que poderia ser uma solução para a região, visto que possuímos grandes rios que no passado já foram navegáveis, conectando-os a outros modelos. A primeira imagem nos mostrará o mapa com todas as estações e linhas novas propostas pelo trabalho, não estão inclusas as linhas já existentes. De verde, à direita, podemos identificar o trajeto das barcas integrando Magé, Duque de Caxias ao Rio de Janeiro (Praça XV). Na linha azul, podemos ver a conexão do terminal de barcas para a estação da Supervia Duque de Caxias, passando pelo Hospital Moacyr do Carmo e bairros da Vila São Luiz e Centenário. Na parte roxa, uma outra linha de aproximadamente 5km segue até os trens pelo bairro 25 de Agosto. A linha rosa segue da estação de trem de Gramacho, em Caxias, até a estação de trem e metrô no Centro de São João de Meriti e Pavuna. Seu caminho percorre os bairros do Jardim Leal, Olavo Bilac, Jardim Metrópoles, Jardim Botanico, Vilar dos Teles, chegando ao seu destino e contemplando os moradores com 10km de extensão. A linha laranja sai do centro de Duque de Caxias em direção a estação de trem e metrô da divisa de São João X Pavuna. Percorre o bairro do Parque Lafaiete até encontrar-se com a estrada São João - Caxias, chega ao Shopping Grande Rio, e posteriormente segue ao seu destino final. A última linha e mais extensa, com aproximadamente 12 KM, essa linha liga a Pavuna até o centro de Nova Iguaçu, através da Estrada Rio do Pau, que passa próximo ao Chapadão, Éden, Vila Norma, Nilópolis, Mesquita e Centro de Nova Iguaçu.
- Prêmio BiC 2023: veja lista de vencedores das principais categorias
Cerimônia de premiação aconteceu neste Domingo (10). Marcão Baixada, King e Jacquelone estão entre os premiados da noite, Rico Mesquita levou o troféu na categoria de Revelação. Foto: @ilovecamerinha Prêmio BiC melhores do ano 2023 Prêmio BiC 2023, é uma cerimônia de premiação do BXD IN CENA, da Baixada Fluminense, que presenteará anualmente os profissionais da indústria musical e de audiovisual com o prêmio, em consideração à dignidade do trabalho e captações na arte para o povo baixadense. A Primeira cerimônia do Prêmio BiC, foi realizada no dia 10 de dezembro de 2023, homenageando e premiando artistas que se destacaram durante o ano citado. História A ideia surgiu do coletivo baixadense (BXD in Cena) para que pudéssemos prestigiar e incentivar a cultura em toda a Baixada Fluminense levando em consideração toda a trajetória dos artistas e fazedores de cultura de nossa cidade. Etimologia O nome da premiação vem da abreviação do nome do projeto BXD in Cena que logo se tornou BiC surgindo assim o nome principal da premiação. Uma noite histórica Em uma noite eufórica e histórica o BXD in Cena exaltou a cultura e a arte na Baixada Fluminense, todos envolvidos estavam comprometidos a trazer a melhor experiência para todos os fazedores de cultura presente. Numa celebração em que saudamos os que já se foram, a gente lembrou também os que ainda estão entre nós, menções honrosas fizeram parte do prêmio durante a cerimônia. Prêmio Ualax (beatmaker/produtor musical), Prêmio Fabio Mateus (audiovisual), Prêmio 1993agosto (fotografia). Menção honrosa: Dudu de morro agudo (Enraizados), Dida (Donana), Heraldo (Gomeia) Refém (APAN), Alexandre do Nascimento (PVNC). Foi possível entender o propósito de cada um, é como se a gente soubesse de que quem venceu não foram apenas os indicados, mas toda a Baixada Fluminense, todos que se empenham diariamente para fazer com que a arte seja vista por aqui. Indicação e escolha dos vencedores Formulários com questionários são enviados aos membros associados, meses antes da cerimônia, que respondem aos questionários relativos a certas categorias somente quanto a quem mereceria ser considerado para a votação nestas categorias; uma espécie de indicação à candidatura. Os membros associados não votam, simplesmente marcam seus desejos - ou seja, quem eles gostariam de nomear - ver como candidato a ganhar o prêmio. Os membros votantes, por sua vez, registram seus votos àqueles mais escolhidos pelos associados. E mais outros votos de categorias exclusivas aos membros votantes. Os administradores, decidem então, por sua vez, dentro dos mais votados pelos membros votantes, quais os artistas que receberão os prêmios, mesmo se o homenageado ainda não tiver sido votado antes, os administradores do BIC têm o voto e decisão final irrevogável. Juri técnico/Administradores: Filipe Lobo, Jéz, Vinivask, Matheus Zama, Saimon Henrique. Membros votantes: Higor Cabral, Liz Córdova, Laura gonna, Medusza, Jota da via, Dorgô, Malê, Ajami. Conheçam os vencedores as principais categorias do 1º Prêmio BiC 2023: Artista Revelação Matheus Lune LAIZZ Lettié NVN DaVinciREP Rico Mesquita (vencedor) Rojão Xari Furou a Bolha Youn Shury Izrra Ebony Slipmami Derxan King Saints (vencedora) Mc Lizzie Caio Luccas Melhor Álbum Rubi – Maui Sagrado Favelado – Onni Repertório - Marcão Baixada (vencedor) Soul da Baixada – Laizz Malicia da Norte – Lavínia Bom dia com Oxalá – Tarcis Welcome to BXD – ÉOJ Factual RJ – Dipaul4 Melhor Música Moncler - Jazzaoquadrado, maiarealplug, Enzo Tonassi RAP SEM REFRÕES E PONTES - Marcão Baixada, G.a.B.o, Rodrigo Caê Jade - Maui, Afrodite, CL FEZ O BEAT Nem todo Porre do Mundo - larissanaota, DaVinciREP Arrepio - Clara Ribeiro, Chediak (vencedora) Sagrado Favelado - Onni, Asiri, Jucy, Tiago Mac Pele - Oly, estudeofunk, Ardo Beatmaker/Produtor musical (Prêmio UALAX) larinhx Drew CL fez o beat Fesant (vencedor) Buzu Vinivi LarissaNaoTa Dionizio Ninja De olho na BXD Kalebe Xaga MC Taya Onã Paulla Afrodite (vencedora) Marcos Rosa Lorac Lopez Tiahac Produtor Cultural Junior Oliveira Ajami (Oshun Prod) Onã Cultural Yargo Santos Giordana Moreira (vencedora) Malê BXD Diogo Queiroz Jota da via Dorgô Mc de Batalha de Rima (indefinido, remarcar batalha de rima) Wl Bxd Rico Mesquita Oman Zeca Passarin Sereia Rdx Mati Braga Melhor Clipe Pique cê Sabe - Matheus Lune RB$ - AUTODESTRUIÇÃO Absurda – Maui (vencedor) Sem domínio – Aryelle Igreja São Jorge – Felipe Vaz Deserto - Kibba Clara Ribeiro – Arrepio Romance de primavera - Dorgô e Aclor Notas - Maskotte, Antconstantino, Chediak DJ DO ANO Jacquelone (vencedora) Antconstantino Dj Imperatriz Moonjay DJ Java Suave Preta CL fez o beat Terrobixa Joazz Melhor Fotografia (Prêmio 1993agosto) Princesinha (vencedora) Bea Domingos Mylena jpg Marina Maux Rah BXD Wander scheefer Artista Promessa Lari Agnelo XamyaKathy Artie Jotta Zurc Medusza (vencedora) Elô Walle B Djéli Oly Melhor Composição Chamego – Djéli Sem Domínio - Aryelle Proteção - Capelloni Meu Melhor Rap do ano (remix) - Marcão Baixada Anos e Anos – Cayuma A última Música - João Passeri Canção pra minha criança ferida – Onni (vencedor) Melhor Curta/Longa (Audiovisual) – Prêmio Fabio Mateus Aro 26 Existe amor na BXD (vencedor) Quem faz o Rio O Limiar da Meia Noite @predioposto13 - Meu nome é União Culpa dos sobreviventes Melhor Arte/Pintura em tela ou superfície. Aline Ignácio Caio Luiz Simba Finonho (vencedor) Juliana Cordeiro Criartist4 Edu Ribeiro Taíssa Classo Ouça a Playlist no Spotify com todos indicados. Vejam agora alguns comentários sobre o prêmio: Coordenação de Projeto – Jéz - @jezbxd Produção Executiva – Laura Gonna, Tabita Infinito, Liz Córdova, Higor Cabral, Isabeli Fernandes, Junior Santos, Matheus Zama, Bea Domingos. @lag0nna @tabitalizando @girassoliz @higordaotopshow, @isafernandx, @juniorsxntos @matheuszama @beadomingosjpg Designer: Vinicius Vasconcelos - @niciusvasc Apoio: @petprocult @z2.studio @galpao252
- Sair dos nossos territórios para legitimar nosso fazer artístico mas não nos esquecermos dos nossos.
Faz algumas semanas que ando discutindo no meu Instagram a nossa busca incessante por legitimação dentro de espaços/instituições onde a branquitude impera, espaços esses que em seu cerne não foram criados para nós, corpos pretos, femininos, favelados, marginalizados… E tá tudo bem querer estar nesses espaços, é nosso direito e mais do que direito é preciso não permitir que eles continuem escrevendo e produzindo sobre nós, mas o buraco é bem mais embaixo. Quem é que começa e dá continuidade no fazer artístico dentro da Baixada Fluminense? A famosa cidade dormitório que é cidade, que é museu, que é galeria… como diz meu querido amigo Ramires, ou melhor, Tecnorgânico: Então vambora penqwsar e discutir sobre isso coletivamente? No meu texto "Lugares possíveis também podem ser inventados" saliento que ao buscar essa tal legitimação não podemos nos esquecer da nossa força criadora de criar nossos espaços possíveis para produção artística dentro dos nossos próprios territórios e geografias. E fica a pergunta, a rua não é centro cultural? A praça pública não é museu? A caixa de sapatos da sua avó cheia de fotografias da família não é um espaço de memória? As pinturas do seu amigo artista na mesa do sarau não é uma exposição? É preciso ter um pavilhão no Inhotim para nos fazer artistas? É a branquitude que não permite você enxergar seu território como lugar possível, foi ela que ditou que só se pode ser quando no mesmo parâmetro que ela. Minha amiga Pietra Canle escreveu um post que está dando pano pra manga nas discussões pelos comentários, sugiro de você ir lá dar uma conferida e continuidade, ela vai trazer para nós pensar sobre "Quem compartilha arte com a sua comunidade quando você sai?" Você já parou pra pensar sobre isso? Sobre essas buscas de se retirar da baixada com o falso sonho de que vencer é conseguir ir pro Centro do Rio? O que fica para as nossas crianças? O que fica pra quem ainda mora na bxd? Não nos condenarmos a pelejar até o fim da nossa vida pela "salvação" desse lugar, mas porque sempre esse lugar de "condenação" e "salvação" quando se trata do nosso território? Quando se trata de permanecer. Aqui é um fim de mundo? Não dá pra ser feliz e construir comunidade? E se for fim de mundo… quem foi que nos largou aqui? Quem é que não dá recursos para a cultura crescer? Meu amigo Sandro Garcia vai trazer uma discussão muito necessária sobre esse papo de ocupar espaços com o artigo "A ocupação que desocupa: O abandono das origens e a busca da legitimação centralizada" (GARCIA, 2022): 4. Precisam mais da gente do que nós deles. Mas aí, a gente precisa ocupar, ou precisam da nossa ocupação? Essa é uma pergunta que eu me faço sempre que sou convidado a qualquer lugar. Porque me querem ali? Eu quero estar? Eu devo estar? porque eu devo estar? E pegando de exemplo minha experiência cinematográfica, a conclusão que eu tiro é que eles precisam de nós muito mais do que nós precisamos deles. Sem nós, sem a margem, o centro se torna mais irrelevante do que ele já possa parecer. Me pego sempre lembrando de eventos “periféricos” onde convidam todas aquelas pessoas, quase um fetiche, para falar de como é produzir na periferia, como é não ter acesso a equipamentos culturais, conta pra gente como é nunca na vida ter recebido um cachê apropriado pelo seu trabalho. Depois de um tempo eu parei para olhar em volta nesses eventos, e percebi que nesses eventos voltados para periferia (que aconteciam em grandes centros), a periferia estava ali, potente como sempre. Animada. Caramba! eles dão passagem! Tem até um lanche! Mas aí você olha os bastidores, os gestores, os responsáveis pelo projeto, as pessoas que estão recebendo o cachê de fato para realizar o tal evento. Você já sabe quem são, e o que eu passei a perceber nesses eventos durante aqueles 2 minutos de fala que dão pra gente resumir nossa vida e obra, é que essas pessoas, esses bons samaritanos, a cara de choque que eles fazem quando eu digo onde eu moro e da situação que eu me encontro, fica evidente que essa galera nunca pisou em Belford Roxo, e pior que isso, não pretendem pisar. (GARCIA, 2022, p. 22)[2] Necessário demais fazer essa leitura, achei de uma grande sacada ele lançar essa: a ocupação que desocupa. Querer ocupar todos os espaços é se esfolar e não ganhar nada com isso, nem teu nome sobe de degrau. Se colocar como artista nesses espaços é frequentar os lugares certos, conhecer as pessoas certas, falar as coisas certas, se vestir com as roupas certas e por aí vai… Ainda tem muita encruzilhada, e ainda bem que encruzilhada é uma infinidade de caminhos, e ainda bem que estamos discutindo isso coletivamente. A gente não tá sozinho não galera, então simbora mergulhar nas nossas terras, vem ler baixadenses, ocupar suas origens, ocupar seu território, questionar legitimação e ocupar ESTRATEGICAMENTE esses espaços que nos criticam sem nenhum pesar. LINKS ÚTEIS: [1] Texto "Quem Valida Minha Existência?" [2] GARCIA, Sandro. A ocupação que desocupa: o abandono das origens e a busca da legitimação centralizada. Trajeto Errático, Niterói, n. 2, pp. 19-23, jan/2022 [Acesso em 15 out. 2023]. Disponível em: https://desaber.com.br/arquivos/TRAJETO-ERRATICO-2a-ed-jan-2022.pdf?fbclid=PAAaad2mPdfLWznfLM-5kimHzxK4fNPqiOCaovQBYE34tiQDTGurjo3NEBDCs.
- Minha terra tem história
Foto: Esquina da Via. Maressa Cardoso. “Você precisa conhecer minha jurisdição, vá prestando a atenção. Lugar que ocupa um pedaço do meu coração, do meu coração…” Os versos acima, cantados por Bezerra da Silva, ilustre sambista acolhido pela boemia baixadense, demonstram um pouco do carinho por essa extensa região conhecida como Baixada Fluminense. Na canção, o músico valoriza os bairros e cidades, ressaltando que a fama é de “barra pesada”, mas que o lugar vai para além dessa imagem de violência. A Baixada é um lugar multicultural, histórico e muito importante, onde residiam e ainda residem figuras marcantes na história do Brasil, como João Cândido e Zeca Pagodinho. Nessa coluna, intitulada: ReXpeita a minha História, o objetivo é trazer um olhar histórico para construir coletivamente algumas narrativas sobre a nossa querida Baixada, munida de uma trajetória que não se resume somente à exploração e a falta de acesso, mas que abrange também incontáveis resistências, lutas e a construção diária da arte, da cultura e da educação, na maioria das vezes de maneira independente. Aqui, é lugar de produção cultural, desde sempre. É terra indígena, terra do povo negro, terra de gente que luta, mas que também ri, chora e que organiza coletivamente o lazer. Geralmente, na época da escola, aprendemos um pouco sobre a história de cada município que engloba a BXD (e põe pouco nisso!), mas não passam de algumas histórias rasas e corridas diante de tanto conteúdo “mais importante”. Porém, a nossa história local é MUITO importante e bem extensa. Nesse espaço, que é quase que informal, o objetivo é trazer um pouco dessas diferentes históriaS que cercam a nossa Baixada, Temos que valorizar os nossos lugares de memória, que por descaso estatal (quase proposital), vêm se deteriorando cada vez mais. Alguns órgãos e instituições como a UFRRJ - IM já vêm fazendo um bom trabalho de busca pela memória e preservação, mas é preciso divulgar cada vez mais esses trabalhos e fazer com que a população esteja envolvida e apegada ao valor de se preservar esses locais. É importante entender de onde a gente veio, traçar essa trajetória para podermos olhar criticamente o que nos faz viver nesse contexto em que vivemos hoje. Nossa querida região guarda a história da capoeira, do samba, do funk, do rap, da mpb, do jazz, do R&B, das danças clássicas, do teatro, da literatura, das rodas culturais, da agricultura, da imigração e por aí vai. A violência, o apagamento, a falta de acesso a inúmeros serviços, a alienação cultural e governamental é sim uma realidade gritante, mas não é só nisso que se resume esse lugar. A Baixada é um organismo vivo e coletivo que se movimenta na sua própria realidade. E que consegue gerar resultados surpreendentes desse movimento. Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo, Mesquita, Queimados, Japeri, Paracambi, Seropédica e Itaguaí são muito mais do que cidades dormitório, de onde saem os trabalhadores todos os dias em direção ao Centro. São cidades históricas e culturais, temos que valorizá-las. Assim espero fazermos aqui. Até a próxima :)
- A Baixada muda minha vida todos os dias.
É como se eu não pertencesse a baixada, mas a real é que ela me faz pertencer. A baixada sou eu, a baixada é você. Todos os dias eu vivo baixada, é como se ir à feira fosse uma jornada. Todos os dias eu me encontro aqui, é como olhar o céu e sorrir da minha sacada. Os artistas e os amores que senti são da BXD, é como se todos os dias eu recordasse que existe amor em mim e em você. A Baixada em cena nos mostra como viver, aperta o REC irmão que você vai entender. Em meio aos trilhos, aos barrancos, uma placa de aluga-se um sorriso aleatório, numa lente de saber encontrar e se alegrar, na rejeição do santinho, num poste com lambe-lambe, uma mesa de plástico e um litrão, pessoas comemoram mais um gol na televisão. Eu me encontro todos os dias aqui, não preciso de muito pra sorrir. Eu me perco quando tento viajar, sabendo que ali já não é mais meu lugar. Eu tento todos os dias entender se a baixada é matar ou morrer. Me disseram até que a Baixada é melhor que a Zona Norte Ah, mas que sorte! Quem diria? Eu amar o lugar onde eu sou cria. Eu queria terminar com uma frase de impacto, mas tudo que foi dito aqui é um pacto. Você sabe, você percebeu BXD é local Você entendeu.
- Apesar do esperançar, a cada dia está mais difícil viver em São João.
Esses dias, a minha grande amiga Fernanda Mirella me mandou uma mensagem me dizendo que eu a ensinei a amar São João de Meriti. Sinceramente, essa foi uma das coisas mais legais e profundas que já me disseram sobre o meu trabalho, nessa tentativa eterna de provocar ou fazer renascer o amor que sentimos sobre o lugar em que moramos. Eu vejo uma São João com muitas possibilidades, com um povo trabalhador, esforçado e diverso. É um campo imenso de tanta coisa a ser construída, aprendida, refeita. Penso sempre em como eu gostaria de frequentar um museu sobre a nossa história, ver apresentações dos nossos cantores nas praças e admirar imagens de quem produz as artes visuais aqui. Sempre me incomodou essa coisa de que sempre que há um comediante falando da minha cidade ou da Baixada, é porque você tem que correr. E aí, ao fundo, as pessoas rindo, gargalhando, quase morrendo de tanto achar engraçado. Tem a sua verdade? Claro. Mas sempre me incomodou essa coisa da gente achar normal o que jamais deveria ser aceito, até mesmo em brincadeira. A partir daí nasce, também, a nossa conformidade com os fatos que aqui habitam. Escrevo bastante e tento comunicar sempre que apesar de todas as infinitas violências, existe muita gente resistindo e tentando alertar de que é preciso não se deixar com que pessoas e ideias morram em São João. Há quem faça isso vendendo trufas, aqueles que resistem dando aulas em pré-vestibulares ou o vizinho que varre a calçada cotidianamente. São formas e formas. É a vida acontecendo. E mesmo que nessa jornada bonita que eu vejo a minha frente, de conhecer tanta gente querida e especial antes mesmo d’eu completar vinte anos de vida, é difícil se manter em pé, refletindo com avidez e tentando se segurar. Por isso, o texto de hoje é muito mais um desabafo do que qualquer outra coisa. Mesmo nova, estou cansada. Os moradores de São João estão sempre em muitos lugares, somos um formigueiro - ou éramos. Enfim, tô sempre em algum lugar diferente, fazendo coisas diferentes e vivendo. Sendo jovem. Existindo. E às vezes, no meio de momentos sorridentes, percebo que muito do que me deveria ser básico na cidade não é. No mês passado, passei muito mal de madrugada, mal conseguia respirar: me levaram para a UPA. Não em São João, claro, isso seria inimaginável: ir de Éden até o Jardim Íris tranquilamente com a minha vida me soa improvável. Ataque de asma, esta, que é muito agravada pelo lixo queimado atrás da minha casa, na frente dela e no ponto de ônibus. São incontáveis os crimes ambientais. Descobri frequentando outros lugares de que não é normal ter que cruzar um valão repleto de esgoto, germe, bactéria, sei lá mais o quê, pra chegar ao ponto de ônibus. Um mar de lixo perto da sua casa também não é legal, muito menos pessoas de outros bairros e cidades indo despejar material de construção onde você mora porque não vai dar em nada. Esses dias eu vou ter de voltar pra casa do Galeão e estou preocupada, porque vou voltar cansada, com mala, e não vou poder simplesmente pegar um ônibus direto porque ele não existe ou chamar um Uber, porque nem carro na minha rua entra. Para a minha avó, idosa, ir ao médico tem sido um grande problema por conta disso. E sabemos, todos, que isso acontece por motivos que não são nada simplistas. Ainda usando minha avó de exemplo, ela não consegue sair de casa para caminhar, por exemplo, porque nunca existiu um projeto de nivelamento de calçadas neste lugar, onde a prioridade para aqueles que querem ser eleitos é asfaltar e asfaltar ruas. Enquanto isso, outras cidades do mundo já entenderam que mais asfalto deixa as cidades mais quentes - aqui, em que 95% da cidade é concreto, nada. Mas não só isso, não entenderam nada. Ou entenderam e se fazem de não-entendidos, o que é mais provável. Não é possível andar nesta cidade a pé, de carro, de ônibus e nem de bicicleta. O que chamam de Ciclovia no Centro de São João é um pequeno trecho usado para as barracas que vendem comida colocarem anúncios de seus produtos. E não, isso não é uma crítica a quem empreende ali. Enquanto eu conheço outros lugares do mundo, me choca como é possível que a gente viva assim. Entendo muito bem a queda da população de -3,86% em comparação com o Censo de 2010: se nem os nossos vereadores moram aqui, por que temos de morar? E a nossa saída, a nossa ausência e o nosso desinteresse são tudo o que aqueles que têm a caneta na mão querem. Fomentam o nosso desprezo, o nosso ódio e o nosso desejo de partir para que eles continuem a formar impérios às nossas custas. Nas ruas, notamos os mesmos sobrenomes nos cartazes, as mesmas gerações de despreocupados com políticas públicas e preocupados com o bolso. E muitos dos que acham essas pessoas um perigo tem um ego que é colocado à frente da prioridade que é pensar esta cidade. Não adianta se unir para fotos: é preciso mais. Em uma cidade em que não temos nem vereadoras negras, é preciso se olhar com urgência e preocupação. Precisamos de líderes apaixonados por políticas públicas, participação popular e evidência como prioridade. A ajuda no impulsionamento destas pessoas é um ato de amor-próprio e coletivo. Parece óbvio, mas é preciso frisar que nada pode continuar como está. Os de sempre não podem decidir por nós e nós precisamos parar de deixar que estes estejam lá. Mas para fazer isso, é preciso ter segurança. Como fazer, sabendo que a qualquer reclamação a sua vida corre perigo? Quem já faz parte do sistema não o resolverá. O tomaremos para nós, então.
- Taxa de aborrecimento em Cuidados Digitais
Você já sentiu um desconforto quando começa a fazer uma coisa nova? Aquela sensação de “porra, não consigo fazer isso de jeito nenhum”, busca aí na mente a última vez que sentiu isso, captura esse momento, agora pensa em outros momentos e compara. Parece que pra algumas coisas, o nosso desconforto vai ser muito maior do que em outras algumas coisas. Esse desconforto às vezes se soma aos pequenos irritantes, aqueles desafios do dia a dia que deixa a gente irritado. Como não conseguir passar o RioCard de primeira, seja porque a máquina de cartão não leu direito o chip ou porque você fez recarga e recarregou na hora ali. São coisas pequenas, esquecíveis, mas que quando rolam com você, te trazem sensações desagradáveis, em diferentes intensidades. Agora imagina o seguinte cenário, você tentando explicar pra sua mãe que ela precisa botar senha no telefone dela, ela diz pra você que não precisa, que complica mais pra desbloquear a tela. Você insiste, explica novamente, fala sobre um assaltante que se levar o telefone dela e tentar abrir o aplicativo do banco, sem a senha na tela vai facilitar um pouquinho. Ela te responde, mas o aplicativo do banco tem senha, ele não vai acessar, e aí já sem tanta paciência você rebate, mas mãe, tem formas de descobrir a senha do seu aplicativo, sem precisar da senha. Ela encerra a conversa dizendo, então não preciso botar senha na tela, se dá pra descobrir de qualquer jeito, qual a diferença? Bom, não é bem por aí. Queria parecer confuso no começo desse texto de propósito, pra ilustrar que a gente se aborrece, no geral, as pessoas se aborrecem o tempo inteiro, pra fazer qualquer coisa. Desde ações pequenas que modificam nossa rotina, até grandes passos transformadores de realidade. E com as bugingangas tecnológicas não seria diferente. Começamos na internet discada, com aqueles grunhidos que saíam das caixas de som durante a tentativa de conexão, após isso passamos para modens de Oi Velox capazes de transportar longíquos 1 megabytes de dados. 5 megabytes hoje em dia não é nem um PDF que você manda pra um colega de trabalho depois do expediente. A internet evoluiu muito. Atualmente passamos em média 9h por dia no celular, segundo estudos, essa é uma das maiores médias de uso do celular do mundo, aqui o Brasil ganha de 7 a 1, em tempo de tela. Repensar a forma como lidamos com essa relação intensa com as telas, é um aborrecimento. Você ousaria ficar 1 mês inteiro sem celular? Imagina o aborrecimento que isso te causaria, na vida pessoal, profissional, familiar, no barzinho de sexta, na feira de domingo, no caminho pro trabalho novo. Esse grau de irritação seria muito alto em um mês inteiro desconectado, mas ele pode ser menor, conforme você diminui o tempo fora, ou melhor, de acordo com novos modos de usar seu celular, você pode se aborrecer menos e aumentar a qualidade da sua relação com as telas. Pode até transformar sua vida celulística num jeito de potencializar sua existência, melhorar sua comunicação, fortalecer seu autocuidado e outras coisas inimagináveis, até porque, enquanto sociedade nunca tivemos boas relações com as máquinas. Em uma caminhada pelo cuidado da saúde mental, não estar tanto tempo deslizando o dedo pelas telas, pode ser uma boa saída. Principalmente se você é uma pessoa trans nas redes, os dados sobre discurso de ódio à pessoas trans e LGBTQIAP+ são ensurdecedores. Números esses que se multiplicam de uma rede social para outra, são violências que tem como plataformas esses aplicativos e sites de “interação social”. Revisitar seus modos de uso dos celulares, pode te deixar mais feliz quando estiver online, mas eu vou torcer pela paz como Jroge Ben Jor, pra que você prefira sempre ficar offline, se puder e se quiser. A tudo isso, essa irritação digital e a necessidade de se proteger digitalmente, temos uma coisa no meio do caminho, a nossa taxa de aborrecimento, [taxa de aborrecimento] nas novas tecnologias, [taxa de aborrecimento] nas novas ferramentas, [taxa de aborrecimento] nas novas práticas. Mas como pra tudo temos [taxa de aborrecimento], tipo quando queremos deixar o sedentarismo de lado, correr um pouco por dia, mas só por 5 minutos, pra não ficar pesado. Pra quando queremos dormir cedo, mas meia noite tá bom, depois eu vou dormindo mais cedo se conseguir. Sempre criando nossos meios de diminuir nosso aborrecimento, nosso desconforto fatídico ao mudar de vida. Ao cuidar de si mermo, a botar nossa saúde como prioridade ou simplesmente, querer mudar um pouco, porque mudar é importante. A taxa de aborrecimento, vai estar presente em tudo que puder fazer a sua vida diferente, pra melhor, ou pra pior. Por isso é importante estar atento a ela, tomar cuidado. Porque ela também indica se essa mudança vai valer a pena pra gente, tem mudanças mais dolorosas que outras, que nossa taxa de aborrecimento vai beirar o infinito, mas que podem nos salvar a vida. Outras modificações dolorosas, podem mexer em nossa tolerência pelo aborrecimento, mas podem verdadeiramente estar acabando com a gente, e talvez é preciso recuar nessa, rever, repensar, desfazer, recomeçar. Na tecnologia é por aí, se um dia te falarem que seu celular ouve suas conversas, dê uma refletida, consigo me cuidar disso? Preciso me cuidar disso? Posso aprender como, preciso saber se quero. A proposta dessa coluna, minha família, é apresentar a vocês possibilidades de cuidados digitais, celebrar o que vocês já sabem desse mundo-maluco-tecnológico, engrandecer suas dúvidas, pra gente lidar com elas, deixar nossa taxa de aborrecimento curta e aceitável. Enfrentar o medo desse tanto de nomes em inglês que mexem com nossa vida cada vez mais. Eu quero mostrar como me cuido, e contar as histórias do que tenho aprendido falando sobre isso por onde ando, seja na minha comunidade em Imbariê, no complexo da Maré, no Muquiço em Guadalupe ou lá em Belém do Pará. Caminho pelo mundo nessa missão, mas parto da Baixada Fluminense, e é pra cá que retorno tudo que construo. Quero construir com vocês. Podem me chamar de Ramires, O Tecnorgânico. A parte orgânica vem depois.
- Como ser nós se não sei ser eu?
“Qualquer caminho serve pra quem não sabe onde vai”. Essa frase é clichê pra caramba, mas se torna bem real quando voltamos pra conversa sobre identidade(s) baixadense(s) que tento sempre trazer. Afinal, não dá pra tomar a decisão por mim de ser algo se eu não sei ao certo o que esse “algo” é, faz, representa, participa. Ser baixadense é mais que fazer parte de um território, como falamos no texto anterior: é também atribuir essa atividade a tudo o que fazemos e representamos socialmente. Mas... o que é ser baixadense? Acho importante nos definirmos e identificarmos como baixadenses, usar esse termo como reafirmação de espaços e territórios, o que nao pode acontecer (e acontece!!) é invisibilizarmos atividades e/ou vivências baixadenses por estarem longe demais de nós, ou pior: nos invisibilizarmos por estarmos longe demais. Ambos os problemas são sintomas de uma crise de identidade de eventualmente atinge a população baixadense (e periférica de um modo geral), baseada no que falei no texto anterior: nossos objetivos estão fora daqui, nossas metas estão fora daqui, nossas aspirações e desejos se encontram fora daqui. Stuart Hall diz em seus estudos sobre as identidades culturais que existem três pontos principais relacionados aos processos de globalização. Primeiro, que ela caminha em paralelo com um reforçamento das identidades locais; segundo, que ela é um processo desigual e que tem sua própria “geometria de poder”; e por último, que ela retém aspectos da dominação global ocidental[1]. Este último aspecto não só faz com que esqueçamos quem somos: nos leva a esquecer de entender o outro como parte do mesmo grupo que estamos, por causa de suas diferenças. Se meu vizinho, ainda que também baixadense, tem uma vida menos complicada do que a minha, este se enquadra num subgrupo, no qual logicamente não estou inserido. No entanto, se a experiência do outro é “pior” do que a minha, me sinto constrangido de me colocar no mesmo grupo que este. Assim, ao passo que estamos nos setorizando e, como consequência, nos separando, perdemos a força do coletivo quando precisamos reivindicar uma melhoria geral. Afinal, não vou buscar por uma melhoria que não vá me atender, seja por estar “abaixo” do escopo da melhoria, seja por estar “acima”. De um jeito ou de outro, o rótulo é sempre o mesmo: “fora”. Entendendo que somos um coletivo igualmente empurrado em direção ao esquecimento, podemos brigar – em conjunto – para mudar essa situação, não importando em que nível as coisas melhorem. De igual modo, podemos brigar com mais propriedade por quem vem trilhar o caminho no qual nós estamos, porém inicia agora. Sabendo quem sou, eu sei quem somos. Sei por quem batalho e quem batalha por mim. A Baixada como unidade é um sonho meu, mas sei que tem gente que sonha juntinho comigo. [1] HALL, Stuart. O global, o local e o retorno da etnia. As identidades culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
- Lazer e qualidade ambiental
Você já reparou como tem diminuído os espaços verdes na sua cidade? Nos espaços de lazer que estão quase tornando-se extintos? No crescimento de lojas, prédios comerciais, estacionamentos e dos "atacadões"? Dispomos cada vez menos de espaços verdes nos centros urbanos, arborizados ou aquilo que podemos considerar como espaços de lazer nos bairros — pensando aqui o lazer gratuito, não aquele promovido por shoppings e parques como o "play…”. Quando encontramos praças — nossa prefeitura (São João de Meriti) ama construir ou reformar praças próximo ao período eleitoral e dizer que faz algo por nós, só fica atrás de Caxias que coloca balanço de metal exposto AO SOL para queimar o bumbum das criancinhas — elas possuem pouquíssimas árvores, que resulta em diversos problemas, inclusive na falta de sombra, que o escritor José Saramago apontou como importantíssima para o desenvolvimento das crianças. Não podemos nos esquecer que a vegetação também é um indicador de qualidade de vida, pensando que através da fotossíntese temos o sequestro do gás carbônico da atmosfera e a liberação do oxigênio, evitando o agravamento/surgimento de problemas respiratórios. O conforto térmico também é outro fator influenciado pela vegetação, assim como a melhor absorção/infiltração de água pelo solo, tornando as enchentes provocadas pelas chuvas menos catastróficas. A seguir, veremos imagens de satélite, captadas pelo Google Earth (26/07/2023), para que seja possível fazer um comparativo entre as áreas nobres da capital e bairros populares de 2 municípios vizinhos. O ambiente no qual vivemos está sendo cada vez mais ocupado e tratado como mercadoria, quando digo ocupado, não me refiro somente ao crescimento residencial, que é essencial para a vida do povo, mas sobretudo aos empreendimentos imobiliários. Redes de venda por atacado, estacionamentos, galpões logísticos, construções que geram lucros a uma parcela de pessoas as quais nem sabemos quem são, enquanto isso, nossa qualidade de viver só tem diminuído. O ar que respiramos está a cada dia mais poluído, o lugar onde vivemos com cada vez mais lixo, mais quente, mais suscetível a enchentes, e a prefeitura, o governo do estado ou sei lá quem, que deveriam pensar previamente os impactos e as políticas públicas para diminuir os efeitos, nada fazem por nós. Quando pensamos a musicalidade e as denúncias do povo preto e periférico, o Racionais Mc's foi cirúrgico ao denunciar no álbum "Raio X do Brasil", mais especificamente na música "Fim de semana no parque" a diferença no lazer dominical das classes mais abastadas, que frequentam os parques, possuíam brinquedos diversos e aparelhos eletrônicos, ou seja, desfrutavam do melhor que o sistema capitalista poderia lhes oferecer naquele momento. Enquanto isso, as famílias menos favorecidas, longe das formas de diversão dispostas, das praias, clubes etc. são condicionadas ao vício através do alcoolismo e outras coisas mais. Infâncias que são marcadas pelo descaso, pela violência e pela perda compulsória de suas ingenuidades, aliás, como já foi denunciado na Revista Menó, quem afinal pode ser criança? Mas que elas, de fato, "também gostariam de ter bicicletas, de ver seu pai fazendo Cooper tipo atleta, gostariam de ir ao parque e se divertir, e que alguém as ensinasse a dirigir, mas elas só querem paz e mesmo assim é um sonho". Tenho lembranças da infância, de campinhos de terra, brincadeiras de subir em árvores, uma certa "liberdade" que dispunha morando em uma rua sem saída, que talvez hoje nossas crianças não desfrutem mais. A sensação que tive ao pensar e escrever esse texto é que, para esse sistema, nossa vida, as belezas que vemos nas pessoas e nos lugares que amamos, não passam de mera superficialidade, de mãos para trabalhar até exaustão, de espaços igualmente explorados. Como se fossemos fadados a viver assim, sem experiências/momentos de gozo, sem nos questionar qual é a estrutura que condiciona nossas vidas a ocupar esse lugar e viver o que vivemos. Lugar esse que é do descaso deles para conosco, mas também é da denúncia, da juventude que tem ocupado cada vez mais as universidades, os espaços de produção cultural, cantando sobre suas realidades e ajudando que outros também consigam lançar sua voz e pensamentos ao mundo. Vão tentar nos parar, mas quando olho ao meu redor, vejo que minha área, minhas pessoas me esperam. Transgredir é a regra… abraço.
- Agenda Meriti 2030: Ousar incidir em São João de Meriti é ousar romper estruturas
Em uma sala de reunião do Google Meet, estávamos nós, três meritienses estudantes do ensino médio conversando sobre as inquietudes de sermos, justamente, três meritienses. Era novembro ou dezembro de 2021 e éramos parte de um grupo em comum, mas que nunca pautou São João de Meriti. Era hora de fazer alguma coisa. Fizemos um grande toró de ideias com papéis colantes virtuais expondo tudo que a gente achava que era problema e soluções para eles. Aquela reunião poderia durar para sempre, por motivos de: São João de Meriti é São João de Meriti. Naquele momento, nasceu o que não achávamos que seria tão grande e que chegaria tão longe. Era o parto do que hoje chamamos de Coletivo Jovem A(tua) Meriti. Resolvemos que tínhamos que conversar com as pessoas. Num contexto de muitos casos de violência política e uma polarização ainda muito acentuada, dialogar era fazer tudo o que aqueles que deveriam nos representar não fazem. Para as ruas, fomos nós com jornais financiados pela campanha Diálogos Periféricos do Engajamundo, uma iniciativa de comunicação sobre racismo ambiental nas periferias que eu e Fernanda Sena, uma das fundadoras da A(tua), fizemos parte. No jornal, a gente resolveu colocar pra fora tudo o que pensávamos e já havíamos estudado, mas que nunca nos soou acessível em São João. No meio daquelas matérias curtas e intensas, havia uma específica que falava do documentário MEMÓRIAS - Raízes da Perifa, que contava um pouco do racismo ambiental em Parelheiros, no sul da cidade de São Paulo, e em São João de Meriti, na nossa amada Baixada Fluminense. Enquanto distribuímos os jornais às pessoas, eu gritava pela Praça da Matriz que existia um Parque Natural Municipal que poucos conheciam, que o Rio Pavuna era navegável e que éramos jovens tentando fazer algo de diferente no nosso território. Algumas pessoas jogaram o jornal no lixo (pois não existe jogar fora), mas algumas outras nos ouviram e disseram que nunca tinham visto nada do tipo. É tão ousado assim se unir com amigas para repensar um lugar destruído por narrativas e práticas violentas? Realmente, nós, que plantamos a semente A(tua), nunca vimos nada feito por jovens para jovens. Existem muitas formas de organizações belíssimas e necessárias na cidade, feitas por pessoas comprometidas e esforçadas, mas eu nunca tinha visto um grupo de pirralhos (como amam dizer por aí) se propor a pautar política pública para São João. Ao longo do ano de 2022, pincelamos atividades importantes para o coletivo, como, como a produção de mais um jornal feito com apoio da Casa Fluminense e o importante-marcante VOZES DA BAIXADA. Com o financiamento da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil, o VOZESBXD, como chamamos, foi uma noite de 13 palestras curtas de 13 lideranças dos 13 municípios da Baixada. Contamos com atleta paralímpico, cientista, cantora sertaneja, de tudo. E é curiosíssimo pensar como fizemos tanto com tão pouca idade. Mas o que quero dizer mesmo não é isso. Lá em 2021, eu e a Fernanda fizemos o Curso de Políticas Públicas de São João de Meriti, na época facilitado pela Nossa Meriti. Foram vários encontros em vários bairros para debater política pública e a ideia é que depois do fim deste curso rolasse uma consolidação das propostas desenvolvidas pela galera. Por N motivos, isso não aconteceu em 2022, um ano agitado na politicamente e pessoalmente para qualquer um. Mas agora, em 2023, a gente queria que a A(tua) ganhasse forma e alcançasse outros espaços. E é aí que a Nossa Meriti entra, assim como a Casa Fluminense (a qual eu fui aluna do Curso de Políticas Públicas): cadê a agenda local de políticas públicas de São João de Meriti? O Fórum Rio, encontro anual da Casa, seria em junho e poderíamos pré-lançar o documento no evento. Topamos a ideia. Seguimos. Já existia esse material de diagnóstico do curso da Nossa Meriti, mas faltava reencontrar pessoas e rever desafios. Fazer escuta no corpo a corpo e entender as necessidades das pessoas. Pra poder fazer essa atualização, fizemos no total oito encontros, virtuais e presenciais, todos divulgados previamente pra quem quisesse chegar. Esse, na minha opinião, foi o processo mais gostoso de desenvolver o documento. Apesar de todo o estresse dos bastidores, na chegada de cada encontro chegavam novas e novas ideias. Ouvimos pedreiros, professores, atores, pesquisadores, agentes de saúde. As nossas parcerias, como com o Projeto Inclusão de Éden e a Iniciativa Direito à Memória e a Justiça Racial, nos ensinaram que pensar política pública é pensar fora da caixinha e que se o nosso desejo é chegar longe, o caminho deve ser cruzado coletivamente. Em um milagre dos tempos, a Agenda ficou pronta na metade de maio e no início de junho estávamos nós, no Fórum Rio de Queimados pré-lançando a Agenda Meriti 2030. Se sonhar é uma possibilidade, a realização do desejo é uma ordem. E o povo meritiense clama por isso. A Baixada como um todo clama. A cada pessoa que pegava a Agenda no Fórum, via uma espécie de espalhar de sementes. Em julho, no Colégio e Curso Fator, a Agenda foi finalmente lançada para o povo de São João. Com a presença de pessoas que surgiram porque acompanhavam o nosso trabalho e de outras que descobriram porque divulguei via TikTok, aquele auditório ficou pequeno para o grito de urgência que todo cidadão de São João emite. As pessoas passavam os dedos pelas páginas na minha frente e eu via toda uma história de um coletivo que agora é maior do que esperávamos: a A(tua) tem a atuação de estudantes de direito, ciência política, engenharia e mais. Somos orgulhosamente meritienses e agora espalhamos a palavra da Agenda aonde for. A Agenda Meriti 2030 tem mais de 80 propostas, ela está dividida entre: (1) Gestão e Transparência; (2) Educação; (3) Saúde; (4) Cultura; (5) Clima, Meio-Ambiente e Saneamento Básico; (6) Mobilidade Urbana; (7) Segurança Cidadã; (8) Assistência Social. Todo eixo tem um texto de diagnóstico e junto a ele, propostas de políticas, em sua maioria direcionadas ao poder público municipal. Apesar dessa ser a nossa vontade, não pedimos nada extraordinário e distante, até porque a realidade não nos permite. Entretanto, muitas são propostas palpáveis e que exigem, simplesmente, vontade política. Já que esse texto é pessoal e não reflete a opinião do coletivo, e estamos falando de vontade política, ao longo dos encontros que fizemos, apesar dos convites, nenhum representante do poder público da cidade compareceu. Estaduais e federais também não. Isso diz muito. Às vezes me pergunto se subestimam a nossa capacidade de jovens mulheres (a Atua é um coletivo majoritariamente de mulheres) de fazer alguma coisa, numa política municipal tão masculina e abertamente machista. Às vezes entro nas loucuras de achar que é arriscado. Às vezes me arrependo de abrir mão da tranquilidade de ser apenas mais uma que pensa que está tudo bem. Mas provavelmente por isso a A(tua), assim como o BXD in Cena, existem: para mostrar que existe solo fértil de ideias plurais pra uma parte do Rio tão singular em suas complexidades. Gosto de pensar que esses atos começam pequenos e tomam possibilidades que não nos cabe controlar. E é isso que me apaixona nessa rede de conexões eterna que é a vida e é a Baixada Fluminense. Encare este texto como um exemplo de que muita coisa que não se pensa pode acontecer. A A(tua) Meriti e a Nossa Meriti se permitiram sonhar e dividir esse sonho: por que você não embarca nessa com a gente? Ao longo dos próximos meses, esperamos tornar a Agenda mais conhecida pelas pessoas e que ela tenha vida própria: chegue onde quiser, como quiser, quando quiser. Mas que a gente a apresente com todo o carinho e preocupação com a qual ela foi gerada. E é assim que a política pública tem que ser feita e encarada. É impossível acreditar que as coisas devem continuar como estão. E apesar desse ser o caminho mais árduo, é o que mais vale a luta.












